O Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) foi criado em 1998 como avaliação voluntária que pretendia medir a efetividade do segmento no ensino de competências e habilidades
O DIA
Rio - O Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) foi criado em 1998 como avaliação voluntária que pretendia medir a efetividade do segmento no ensino de competências e habilidades. Em 2009, o exame foi reformulado e passou a ter novas funções, dentre as quais selecionar candidatos para ingressar em algumas universidades. Outra função seria a de induzir mudanças no currículo do Ensino Médio, ou seja, transformar os programas e as práticas pedagógicas nesse segmento.
Em tese, o que se esperava é que, com a apresentação de problemas com questões contextualizadas e interdisciplinares, a prática dos professores em sala de aula caminhasse nesse sentido. A prova, dividida em quatro áreas: matemática, linguagens, ciências exatas e ciências humanas, exige que os alunos tenham desenvolvido competências capazes de habilitá-los a compreender, interpretar e agir para resolver as questões.
Outra intenção do exame é induzir o Ensino Médio a encarar as disciplinas e os conteúdos como um meio e não como um fim. O que aprendemos na escola deve servir para resolvermos problemas concretos na vida.
O que ocorre é que a influência que o Enem exerce não é sentida de maneira uniforme nas escolas. As escolas que já voltavam seus currículos para o Vestibular e já eram as que mais aprovavam fizeram (e ainda fazem) um grande esforço para que seus alunos obtenham bom resultado no exame. As escolas públicas e as que nunca disputaram rankings, que são a grande maioria, praticamente pouco alteraram seus currículos.
Essa situação provocou uma indução inversa. A intensificação do uso do Enem como prova de seleção para o Ensino Superior vem descaracterizando-o enquanto indutor de mudanças no Ensino Médio. O aumento do número de questões que exigem a aplicação de fórmulas em detrimento às que exigem interpretação de textos é uma das evidências.
O Ensino Médio precisa de financiamento adequado, formação de professores interdisciplinares, diálogo com as culturas juvenis, com o mercado de trabalho e elaboração de um currículo nacional mínimo e infraestrutura nas escolas. Essa é a base de uma mudança realmente democrática. Enquanto isso não ocorrer, continuaremos a perguntar: afinal, pra que serve o Enem?
Júlio Furtado é educador e escritor
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