Zuenir Ventura, O Globo
No dia em que Ulysses Guimarães faria 100 anos, eu estava em Ubá, onde na véspera participara de um evento que já foi até proibido em tempos de trevas, mas hoje é um ato normal, corriqueiro graças à ação desse extraordinário político que instaurou no país, após mais de 20 anos de ditadura, a Carta Magna de 1988, por ele chamada de “Constituição Cidadã”.
Como tem acontecido em muitas cidades, na noite anterior grupos se reuniram para trocar ideias. No encontro desta semana, promovido pelo Projeto Grandes Escritores, de Marcelo Andrade, o ator Du Moscovis leu crônicas deste colunista que vos fala para mais de 300 pessoas, que, ao chegar a vez das perguntas, debateram com o autor temas variados de natureza cultural e política.
Numa hora em que os nervos estão à flor da pele, confesso que fiquei surpreso não só com o clima de civilidade e respeito às diferenças de opinião, como também com o alto nível das reflexões propostas por uma plateia de diversas idades cuja curiosidade não sei se pude satisfazer. Voltados para nosso umbigo, costumamos achar que não há vida inteligente fora do eixo Rio-SP, quando na verdade existe um Brasil bem mais interessante do que se imagina no “interior”, assim dito com certo desprezo etnocêntrico.
Uma questão me chamou a atenção em particular, quando alguém quis saber qual seria o papel dos jovens na atualidade política. Disse ou pretendi dizer que em fases decisivas da História eles, principalmente os estudantes, foram sempre personagens indispensáveis, como podem ser agora, desde que tenham aprendido com o passado a lição de que não devem confundir vontade, que não pode faltar, com voluntarismo, que tem de ser deixado de lado.
Numa democracia, quem sabe não faz a hora, como se dizia em 68; quem faz a hora não é a violência, mas a mobilização pacífica e o voto. Vandalismo, quebra-quebra e anarquismo não tornam o país melhor, muito ao contrário, levam-no a andar para trás. Em outras palavras, explodir caixas eletrônicos não abala o sistema financeiro, da mesma maneira que botar fogo em ônibus não resolve o problema da mobilidade urbana. Em tempo.
Para mim, foi agradável descobrir que as crônicas lidas por Du Moscovis parecem outras, ficam muito melhores
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