03/05/2016
Se fracassar, o Brasil poderá ver uma Dilma resgatada da fogueira da inquisição na qual foi jogada por seus opositores
O DIA
Rio - A linha de tempo é hoje a maior inimiga do vice-presidente Michel Temer. Se assumir agora, a sua interinidade é de 180 dias, prazo final para o julgamento no Senado da presidente Dilma. Mas na prática, quem estará sendo julgado também será o próprio Temer. Se nestes meses ele for um grande fracasso com o peso das medidas impopulares que será obrigado a tomar, qual senador terá coragem de tirar Dilma definitivamente do Alvorada?
Enquanto Temer, com os cofres vazios, não terá varinha mágica para governar, Dilma terá seis meses de agenda política. Visitará todo o país e poderá cuidar de uma defesa mais robusta, encarnando o papel de vítima de Eduardo Cunha e do vice. Na prática as medidas impopulares deveriam ser tomadas por Dilma que, uma vez afastada, passará esse ônus ao peemedebista.
Sem contar que nestes seis meses o presidente interino enfrentará uma oposição competente, especialização histórica do PT e do PCdoB, matéria na qual o PSDB foi reprovado. Os petistas sabem quando e onde bater. Haverá também a força das mobilizações sociais e o pior: o mundo estará de olho no Brasil em plena Olimpíada. Qualquer manifestação popular que ocorra com milhares de jornalistas internacionais no Brasil terá o poder de uma bomba atômica.
No meio deste terreno pantanoso, teremos ainda uma eleição municipal. Grandes capitais poderão virar palco de debates acirrados. São Paulo, Rio, Porto Alegre, Salvador, Belo Horizonte podem correr o risco de virar praça de guerra pelo clima de antagonismo que separa os grupos opositores.
O vice Temer está na verdade como equilibrista, caminhando em uma linha de tempo travestida de corda bamba, esticada sobre um abismo e com duração de seis meses. Ele terá de rezar muito para que as tormentas e ventanias previstas para o período não o deixem tombar no fosso da impopularidade.
Se Temer fracassar, o Brasil poderá ver uma Dilma resgatada da fogueira da inquisição na qual foi jogada por seus opositores e a demonização do vice. Na prática o julgamento vai avaliar os supostos pecados de Dilma e o desempenho de Michel nos próximos seis meses.
Cláudio Magnavita
Cláudio Magnavita é jornalista
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