segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016

Crônica do Dia - 29 de fevereiro - Luiís Fernando Veríssimo

Inventaram um mês mais curto e um dia extra em certos fevereiros para alinhar o calendário gregoriano com o lunar, ou coisa parecida, numa versão cósmica do jeitinho

28/02/2016 



Jaguar é o mais famoso bissextino que existe, pelo menos para seus amigos e admiradores. Fiz uma pesquisa e descobri que, além do Jaguar, nasceram em 29 de fevereiro de l932 só mais três pessoas que mereceram ser citadas pelo Google: Gene Golub, matemático, já falecido; Masten Gregory, automobilista, já falecido; e Reri Grist, soprano, ainda viva, todos os três americanos.

Posso estar cometendo uma grande injustiça e apenas mostrando minha completa ignorância do mundo dos matemáticos, dos automobilistas e das sopranos, mas nunca ouvi falar de nenhum deles. (Cartas de protesto para a redação). Já o Jaguar está lá: cartunista, brasileiro, vivo e conhecido.

Ser bissexto tem suas desvantagens — menos presentes de aniversário — e suas vantagens: só se fica mais velho de quatro em quatro anos. Inventaram um mês mais curto e um dia extra em certos fevereiros para alinhar o calendário gregoriano com o calendário lunar, ou coisa parecida, numa versão cósmica do jeitinho.

Pessoas nascidas em 29 de fevereiro teriam poderes especiais ou características próprias, no caso do Jaguar, seu talento incomum. Mas imagino que dois dias a menos e um eventual dia a mais em fevereiro devem causar problemas, por exemplo, para os astrólogos, que precisam encaixar os dias a menos e a mais em mapas astrais que não têm nada a ver com os volúveis calendários terrestres.

Já contei várias vezes que uma das coisas que eu fazia quando comecei no jornalismo era o horóscopo. Como era um iniciante numa redação sem muitos recursos, me botaram a fazer de tudo, inclusive astrologia amadora. Depois de um dia fazendo de tudo, ainda precisava me concentrar em prever o futuro e orientar a vida profissional e sentimental das pessoas.

Tinha pouco tempo e escrevia o que me vinha à cabeça, quase sempre apelando para o humor, e muitas vezes apenas trocando meus conselhos de um signo para outro, aproveitando para sagitário o que no dia anterior servira para leão, por exemplo.

Na inocente suposição que cada leitor só lê o que diz seu próprio signo. Mas todo o mundo lê todo o horóscopo todos os dias. Aquele astrólogo metido a engraçadinho não podia durar muito tempo. Foi uma carreira curta.

Quer dizer: sei por experiência própria a confusão que os homens provocam entre os astros.

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