Propaganda em metrô do Rio gera polêmica por preconceito subliminar
Uma peça publicitária do Metrô Rio instalada na estação Antero de Quental, no Leblon, vem gerando polêmica dentro e fora dos vagões. Criada para promover a Linha 4, que liga a Zona Norte da cidade à Barra da Tijuca, passando por bairros nobres da Zona Sul, a propaganda mostra dois casais isolados — um formado por negros, outro formado por brancos — com a legenda: “Linha 4, conectando de ponta a ponta”. Nas redes sociais, choveram críticas à publicidade que, na opinião de internautas, carrega um preconceito subliminar.
“Deixa eu ver se adivinhei: o casal de negros representa a Zona Norte, e o de brancos, a Zona Sul. Lamentável”, escreve a internauta Thalita Santos, no Facebook. Outra usuária das redes é mais incisiva: “Que vergonha. Infeliz demais essa propaganda claramente racista”, diz Débora Fonseca. Até o senador Lindbergh Farias usou as redes sociais para criticar a peça: “O metrô Rio agora oferece racismo na sua propaganda institucional. Mas o Ali Kamel diz que não existe racismo no Brasil... Vai vendo”, escreveu.
Na estação onde foi instalada, a propaganda divide opiniões. Para o arquiteto Leandro Ferreira, de 35 anos, a publicidade não propaga o racismo.
— Não consigo ver como racismo. A Linha 4 pega toda a Zona Sul, incluindo a Rocinha, que tem baixo IDH. Também pega Uruguai, que é uma área mais nobre da Zona Norte. Além disso, a imagem não indica que cada casal representa uma zona da cidade. Não consigo ver esse vié — argumenta o arquiteto.
De outra opinião partilha o técnico em impermeabilização Josias Azevedo, de 43 anos.
— Embora não seja uma mensagem explícita, realmente tem um duplo sentido. A verdade é que o preconceito racial é uma ferida na alma do brasileiro. Quando acontece uma coisa assim, mesmo sem intenção, acaba tocando novamente nessa ferida — diz ele.
Para o presidente nacional da Comissão da Verdade da Escravidão Negra do Brasil da OAB, o advogado Humberto Adami, não há dúvidas de que existe um preconceito subliminar na propaganda.
— Pode ser encarado como difusor de um racismo geográfico, ao indicar que moradores de uma região são todos negros, em especial os de baixa renda, enquanto que outros, de maior renda, são brancos. Pode não ser intencional, o que prova que o racismo está escondido no interior das cabeças, em especial os publicitários da campanha do metrô — diz o advogado.
Após a repercussão, a concessionária informou, em nota, que vai retirar a propaganda. “O MetrôRio é totalmente contrário a qualquer forma de discriminação e sempre primou pela valorização à diversidade em suas campanhas de comunicação. Em relação à peça publicitária “Ligando o Rio de ponta a ponta”, a Concessionária lamenta que tenha gerado uma interpretação oposta às nossas convicções e informa que vai retirá-la da estação, em respeito às pessoas que se sentiram ofendidas”.
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