A esta altura do campeonato, já se pode concluir: Pezão não deu certo
É quase inacreditável a capacidade que o Governo do Estado tem de produzir más notícias. Esta semana, achei que não poderia ter notícia pior do que a da descoberta da ineficiência do telefone 190. Nesses tempos em que a violência se espalha pela cidade e a Secretaria de Segurança não sabe muito bem o que fazer para contê-la, era de se esperar que o serviço que recebe pedidos de ajuda e denúncias de crimes fosse eficiente. Mas o que se ouviu, na gravação de um cidadão que tentou avisar à polícia de um assalto que ocorria em Botafogo, foi um atendente tratando um caso de polícia como se fosse a oportunidade de vender uma TV por assinatura. Aí a gente descobre que o 190 é um serviço terceirizado. Em outras palavras, tem sempre um outro para se botar a culpa. Fiquei engasgado com uma pergunta que não quer calar: quanto o estado paga por esse serviço que trata casos de polícia como se fossem telemarketing?
No dia seguinte, apareceu uma notícia pior. Pezão, nosso inquebrantável governador, lançou uma licitação para alugar, por R$ 2,5 milhões, um serviço de jatinho particular. Ué, mas o estado não estava falido? Tão sobrando R$ 2,5 milhões em algum lugar? Com a má repercussão da iniciativa, foi divulgada uma nota oficial justificando o gasto. Diz a nota: “É imprescindível garantir que os integrantes do Poder Executivo tenham flexibilidade de horários de voos e disponibilidade de aeronaves para deslocamentos de trabalho e emergências”. O governador vai me desculpar, mas quem tem que ter flexibilidade é o servidor público que está com o salário atrasado. Quem vive na emergência é o contribuinte, que não tem hospitais e escolas decentes. Imprescindível mesmo é o salário em dia, a universidade pública funcionando, as delegacias em ordem... A esta altura do campeonato, já se pode concluir: Pezão não deu certo. Pede pra sair, governador.
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Não era minha intenção, mas o comentário sobre séries médicas na televisão brasileira acabou virando fita banana. E, esta semana, ela começa a ser esticada com o e-mail da leitora Marcia Nova: “Assim que li a coluna da semana passada, eu me lembrei que, quando era pequena, acompanhei uma novela chamada ‘Hospital’ (acho que era na TV Tupi) com Stênio Garcia e outro ator de que não lembro o nome. Eles eram médicos de um hospital. Acontecia um acidente e eles trocavam de identidade (como se, com uma operação plástica, o rosto de um passasse a ser o rosto do outro).” A novela existiu. Foi das últimas produzidas pela Tupi e entrou para a História não pela trama rocambolesca, mas por ter sido o último trabalho de Glauce Rocha, que morreu enquanto a novela ainda estava no ar.
Veio ainda a contribuição do leitor Paulo Peres, fazendo menção a um episódio ocorrido durante a exibição de “O jovem Dr. Ricardo”, primeiro drama médico da TV brasileira, estrelado pela galã Cyll Farney. Diz o leitor que ouviu a história do próprio ator. Cyll Farney estava tão nervoso na estreia que, em uma cena, na qual era recebido pela secretária do diretor do hospital, à pergunta “a quem devo anunciar?”, ele respondeu: “Cyll Farney”. A televisão era ao vivo. Foi ao ar assim mesmo.
Tem também o leitor Ivo Gusmão, que se lembra de “Rodolfo Meyer no papel de um médico fugido da Justiça (assassinou a esposa infiel), embrenhou-se no interior, onde passou a cuidar da população pobre sem cobranças e assim buscava resgatar uma motivação para a vida”. Olha, dessa eu não me lembro. Acho que a fita banana vai continuar.
Comecei a ficar na dúvida assim que li o início do e-mail do leitor Luís Fernando Amendola: “Tem certeza que Gal cantou ‘Balancê’ em 1971?” Tinha. Mas deixei de ter com a chegada da mensagem de Luís Fernando. Falei do show de 71 porque foi nele que Gal lançou Luiz Melodia. E por que cargas d’água incluí “Balancê” naquele repertório? Luís Fernando me ajudou a entender: “Devo ser dez anos mais novo que você e, por isso, te considero minha memória para fatos irrelevantes que não vivi. Lembro que no carnaval de 1980 ou 81 a marchinha tocou muito. Foi gravada em 1979 (‘Gal tropical’). Será que tocou mesmo no show de 71? Como você andou meio fora do ar, achei que pudesse ter se confundido”. Tudo de errado que acontece na minha vida, agora, é justificado pelo período em que andei “meio fora do ar”. Mas, se eu der um tranco, a memória pega. Na verdade, “Balancê”, de Braguinha, foi lançada por Carmen Miranda para o carnaval de 1936. Gal, no show de 79, relançou a marchinha, dando-lhe uma sobrevida. Mas como é que eu me lembro de todo mundo pulando carnaval no show de 71? Se não era “Balancê”, era o quê? Pois me lembrei. Era “Vou ter um troço”, de Arnô Provenzano, Otolindo Lopes e Jackson do Pandeiro. “Garota, você é uma gostosura/ Foi proibida/ Pela censura”. Caso encerrado.
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