quarta-feira, 7 de setembro de 2016

Crônicas do Dia - Litígio e ruptura como retrocesso da tolerância - Marcus Tavares


Em tempos em que todos pregam o respeito à diversidade, os indivíduos agem completamente na contramão nesses debates

O DIA


Setores da sociedade afirmam que o impeachment da presidente Dilma Rousseff foi um golpe e que o fato histórico, por consequência, representa um retrocesso na democracia brasileira, somente comparado, nesta visão, ao período da ditadura militar brasileira. Se o afastamento da presidente representa, realmente, um retrocesso na democracia do país, somente o tempo dirá. Não o tempo histórico das futuras gerações, mas, sim, o do nosso dia a dia. E estou certo de que a população saberá se defender e lutar.

Desta história toda, o que eu fico mais surpreso é com o retrocesso que se vê nas relações sociais entre nós. Retrocesso cada vez mais documentado e exposto nas redes sociais. Por defenderem um dos dois lados, cidadãos não só bloqueiam ou retiram de seus contatos os que não compartilham da mesma opinião, como também fazem questão de verbalizar essa diferença e a separação.

Não entendo. Em tempos em que todos pregam o respeito à diversidade em diferentes campos, os indivíduos agem completamente na contramão nesses debates. Não são capazes sequer de conviver, virtualmente, com aqueles que têm outro ponto de vista. O incômodo com a opinião alheia parece ser forte e suficiente para ‘deletar’ ou ‘banir’ o outro. Bem, talvez, você me diga: “Mas eu respeito, só não quero ter esta pessoa na minha lista.” 

Isso não é respeitar. É ignorar, não saber conviver com o outro. É não saber dialogar. Viver cercado com os mesmos pares é retrocesso. Liberdade de expressão não é um direito? Adendo: sim, há aquelas pessoas que vão além. Fazem uso da violência verbal e visual para impor seus argumentos e menosprezar os dos outros. Abusam. Também entram na minha lista de retrocesso.

Como adultos, nós deveríamos repensar nossas práticas e ações. Há várias gerações que compartilham hoje os mesmos espaços. Exigimos das mais novas respeito, compreensão, tolerância, diálogo e solidariedade. Mas fazemos o que defendemos? Parece que não. 

Marcus Tavares é professor e jornalista

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