A sociedade deveria seguir o exemplo da Paralimpíada, que não evidenciou as deficiências, mas as habilidades
O DIA
O 21 de setembro foi escolhido como o Dia Nacional de Luta da Pessoa com Deficiência. A data foi estabelecida pela Lei Federal 11.133, de 14 de julho de 2005, e precisa ser lembrada principalmente porque a inclusão no Brasil não é um processo fácil. As dificuldades são grandes, mesmo diante de tantos avanços tecnológicos, que procuram minimizar limitações impostas a qualquer um de nós, com deficiência ou não. Existem, por exemplo, aplicativos que traduzem a voz de alguém para a língua de sinais para a compreensão de surdos ou que auxiliam os cegos, lendo em voz alta o conteúdo da tela de um celular.
Porém, as maiores dificuldades surgem quando se trata de acessibilidade ou de situações que dependem da atuação do Poder Público. No caso da acessibilidade, vemos como é difícil a movimentação de um cadeirante nas ruas das cidades, mesmo que este tenha uma sofisticada cadeira de rodas. Indivíduos com deficiência sensorial, física e até intelectual sempre encontram grandes impedimentos quando estão em espaços comuns.
Penso que a sociedade deveria seguir o exemplo deixado pelos Jogos Paralímpicos, que não evidenciaram as deficiências, de diversos níveis e características, mas as habilidades, as potencialidades, a capacidade, a técnica e o sucesso. Não existiam barreiras. Para tal, foi necessário que todas as modalidades e provas se adequassem aos atletas (ou superatletas, como se tornaram todos eles). Deveríamos fazer da mesma forma na vida social, no cotidiano, nas escolas, nos momentos de convivência.
Quando são derrubados os muros da discriminação, da indiferença e do preconceito descobrem-se talentos, dons e qualidades comuns à natureza humana. De fato, os maiores empecilhos para a construção de uma sociedade inclusiva não estão nas deficiências, mas, sim, na maneira como nós as enxergamos. É preciso ter o olhar de uma criança numa consciência amadurecida.
É crucial retirar os rótulos de nossos olhos. Nos rótulos, encontram-se as nossas limitações, não as dos outros. Devemos transpor as impressões externas do ceticismo e avançar para a descoberta da alma. Existe um atleta paralímpico em cada deficiente, constituído pela sua condição indelével de sempre superar obstáculos para exercer sua cidadania.
Eugênio Cunha é professor e jornalista
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