O Brasil entrou como nação para o mundo há exatos 200 anos, em consequência de um projeto arquitetado por um luso-brasileiro quase esquecido dos dois lados do oceano: Antônio de Araújo de Azevedo, o Conde da Barca.
Após ter comprado a neutralidade junto aos franceses, o que evitou a devastação de Portugal em tempos napoleônicos, e ter organizado a vinda da corte para o Brasil, para impedir que o regente Dom João perdesse a coroa, Azevedo imaginou, em dezembro de 1815, a criação do Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves.
Sucederam-se duas providências para sedimentar em 1816 o novo reino. Era importante aliar-se a uma grande potência europeia, por exemplo a Áustria, e trazer da Europa artistas para dar lustro à nova corte. O noivado de Dom Pedro e Leopoldina aproxima o Brasil do mundo civilizado, enquanto a Missão Artística importada da França tinha como objetivo a fundação da Academia de Artes e Ciências.
A Arquiduquesa Leopoldina é muito mais importante para o nosso país do que as vãs histórias de traições matrimoniais permitem avaliar. Mulher culta, apreciadora das artes e das ciências, cercou-se, para a sua vinda, de uma comitiva de intelectuais. Aos poucos, afeiçoou-se ao país em que não deveria permanecer mais do que uns poucos anos, e soube empurrar Dom Pedro para a proclamação da Independência, no momento decisivo.
“Pedro, o Brasil será em vossas mãos um grande país. O Brasil vos quer para seu monarca. Com vosso apoio ou sem vosso apoio, ele fará sua separação. O pomo está maduro, colhei-o já, senão apodrecerá. Já dissestes aqui o que ireis fazer em São Paulo. Fazei, pois.”
Debret e os artistas da Missão Francesa tiveram dificuldades para se impor na Corte do Rio de Janeiro. Aos poucos, com sua arte, foram transformando a cidade, contando sua história, registrando cenas que revelam o amálgama das raças que aqui viviam.
“Temos a esperança de fundar um novo império neste Novo Mundo, e você terá grande interesse em ser testemunha deste período de desenvolvimento.”
O único músico da Missão, Sigismund Neukomm, foi assim convencido pelo Conde da Barca a vir para o Brasil em 1816. Enquanto Debret pintava os índios e africanos tocando tambores e berimbaus, Neukomm misturava valsas e lundus e anotava modinhas que ouvia nas ruas.
Já se vão 200 anos, mas as marcas desse momento estão vivas na produção intelectual e artística do Brasil que abrigou o único reino em toda a América.
Rosana Lanzelotte é cravista
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