Em vez de batermos nas crenças religiosas do candidato a ministro, vamos pesquisar o que em seu currículo indica que ele possa ser ou não bom para o cargo
06/05/2016
Lygia Pereira, O Globo
Pois é, apesar de ter prometido um ministério de notáveis, o vice-presidente Michel Temer desagradou à comunidade científica apontando o ex-bispo Marcos Pereira (nenhum parentesco) como possível ministro da Ciência e Tecnologia em seu também possível futuro governo.
Antes de entrarmos em pânico achando que os criacionistas tomarão o poder, trocarão o ensino de evolução pelo Livro do Gênesis, e proibirão as pesquisas com células-tronco, vamos lembrar que o diretor do National Institutes of Health dos Estados Unidos, doutor Francis Collins, é um crente ardoroso em Deus, a ponto de escrever o livro “A linguagem de Deus — A ciência apresenta provas para a fé”.
Nem por isso ele deixou de dirigir brilhantemente aquele que é o mais importante instituto de pesquisa e financiamento de pesquisas biomédicas dos EUA, tendo antes liderado o time americano que sequenciou o genoma humano.
Querem outro? O pai da genética, Gregor Mendel (o das ervilhas e os “azinhos” e “azões” que aprendemos na escola), era um... monge! E foi ele quem sacou como se dava a transmissão de características de pais para filhos, criando os conceitos de genes e hereditariedade.
Ora, em vez de batermos nas crenças religiosas do candidato a ministro, vamos pesquisar o que em seu currículo indica que ele possa ser ou não bom para o cargo. Saberá identificar as prioridades da área? Entenderá os desafios para o desenvolvimento científico, tecnológico e de inovação no país? Saberá se cercar de gente competente, escolhida por mérito, e não por pagamento a favores políticos? O que ele já fez em sua vida profissional que nos dá alguma segurança de que é a melhor pessoa para o cargo (além de ser presidente do PRB, que tem uns 20 deputados que queremos do nosso lado?)?
Uma vez analisado isso tudo, aí sim, como bons cientistas baseados em evidências (ou falta delas), deveremos colocar a boca no trombone. Afinal, chega de tratar esse ministério como moeda de compra de aliados. Pelo amor de Deus (ops!), Dilma ou Temer: ciência, tecnologia e inovação são coisas muito sérias, motores da economia dos países desenvolvidos. Escolham com muito cuidado quem poderá de fato criar as condições para se executar todo o potencial produtivo dos cientistas do Brasil.
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