Os alunos que ocuparam as escolas estão tendo uma experiência essencial na vida de um ser humano
O DIA
Rio - “O livro que eu precisava e não recebi está mofando aqui. A escola é cheia de ratos. Tudo issome levou a ocupar a escola, e a ocupação me mudou. Eu vinha à escola para zoar. Agora entendi o propósito disso aqui. Parei pra pensar: O que estou fazendo? Tenho que mudar.” As palavras acima são de Alan Duarte, estudante da escola Bangu. Elas constam de uma reportagem publicada em jornal de grande circulação no último fim de semana.
Alan tem apenas 16 anos, mas o que disse deve servir de reflexão para muitos marmanjos – alguns dos quais ocupando cargos de chefia nas secretarias de Educação do estado e do Município do Rio de Janeiro. A partir da experiência de São Paulo, quando a garotada reagiu com ocupações ao fechamento de escolas, determinado pelo governador do PSDB Geraldo Alckmin, e à roubalheira na merenda escolar, o movimento se estendeu a outros estados.
É uma forma de luta nova, que mostra vigor do movimento, tão prejudicado nos últimos tempos pelo apelegamento das entidades estudantis. Em São Paulo, as escolas ocupadas foram além de cem. No Rio, quando este artigo estava sendo escrito, já eram 74. Nelas, os alunos distribuem tarefas que, a rigor, deveriam ser do poder público: limpeza, conservação e realização de reparos variados dos imóveis, muitos caindo aos pedaços. Preparam a alimentação. Têm também aulas com gente qualificada, solidária com o movimento. E promovem atividades culturais, recebendo a visita de artistas e músicos que fazem apresentações.
A reação das autoridades não poderia ser mais tacanha e mesquinha. Em vez de dialogar com a garotada, valorizando o exercício de cidadania, e somar esforços na busca de soluções, anteciparam as férias e cortaram o vale-transporte. Os alunos que ocuparam as escolas estão tendo uma experiência essencial na vida de um ser humano. Estão adquirindo consciência política e aprendendo a valorização do coletivo, da sociedade e do respeito com a coisa pública.
Já nos ensinava o compositor Aluísio Machado, da Velha Guarda do Império Serrano, em seu belíssimo samba ‘Humanidade’: ‘Eu quero ser livre e liberar / Eu quero estudar e aprender /Eu só quero aprender para ensinar’. A garotada está aprendendo e ensinando. E nos dá uma lição de cidadania.
Cid Benjamin é jornalista e professor
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