07/05/2016
Quem está processando são três advogados de Nova Friburgo, que querem ter seus 15 minutos de fama
O DIA
Rio - Processos por calúnia, difamação e danos morais fazem parte da profissão de chargistas e caricaturistas. Nosso ofício não é fácil, assim como não é o das chamadas mulheres de vida fácil. Chargista sempre foi, em todos os sentidos, uma profissão de risco. E bota arriscado nisso. Um ilustre antecessor, Honoré Daumier, caricaturou o imperador e advogados nos pasquins da época e acabou amargando seis meses de cadeia, em 1832, há dois séculos passados. E em 1834, com uma lei que proibia sátiras, desistiu de publicar caricaturas e passou a viver de retratos dos poderosos.
Modéstia à parte, também tive alguns processos. Um deles por causa de um balum que botei num quadro famoso de Pedro Américo, ‘O Grito da Independência’, plágio de um quadro - Freidland - de Ernest Meissonier, pintado em 1875 (o de Pedro Américo é de 1888) . Acrescentei um balum no Dom Pedro Primeiro, às margens do Ipiranga bradando ‘Eu quero é mocotó’, grande sucesso de Wilson Simonal. Resultado: processo, instauração da censura no ‘Pasquim’ e prisão, na Vila Militar, de quase toda a equipe do semanário.
Em outra ocasião fui parar no tribunal, não como réu, mas como testemunha de defesa de Agamenon Mendes Pedreira, jornalista fictício, que fazia uma das colunas mais lidas de um jornal do Rio. Quem estava processando o Agamenon era um famoso advogado. O juiz leu o artigo que motivou o processo debaixo de risadas gerais, inclusive do próprio juiz. Quando chegou a hora de me fazer perguntas, o juiz quis saber se eu, por causa de charges, já tinha sido processado. Respondi que sim. E que fui absolvido.
Não resisti à tentação de acrescentar que ganhei a causa devido à brilhante atuação do mesmo advogado que processava o Agamenon. Gargalhadas gerais. Representando o Agamenon, um dos dois humoristas que escreviam suas crônicas, não sei se a metade de cima ou a de baixo.
E o processado da vez é o Chico Caruso, por causa de desenho que mostra um caubói (de costas) escancarando a porta vaivém de um saloon, cenário recorrente de suas charges . Lá dentro, figurinhas fáceis da política – Dilma, Lula, FHC, Temer e outros _ se perguntam “Esse ai é mocinho ou bandido?”. “Pior, é advogado”, é a resposta. Quem está processando o Chico são três advogados de Nova Friburgo, que querem ter seus 15 minutos de fama (coitado do Andy Warhol, como deve estar arrependido de ter inventado a frase). Estou torcendo para que meu colega tenha melhor sorte que Daumier.
Nenhum comentário:
Postar um comentário