quarta-feira, 23 de março de 2016

Artigo de Opinião - A polêmica do samba - Ricardo Cravo Albin

07/02/2016 

O Carnaval de rua do Rio chega a competir com o Sambódromo, democratizando e abrigando criatividades

O DIA


Rio - Apuro a memória, nesta Segunda-Feira de Momo, para tentar localizar alguns dos meus reclamos sobre o Carnaval. E me dou conta, um tanto encabulado, de que, há menos de uma década e meia, nós, os cronistas mais afeiçoados a observar com lentes de aumento a folia do Rio, debatíamos dois assuntos: o primeiro, a transformação das escolas em exércitos turísticos de luxo que marchavam, ao invés de sambar (o samba de enredo acelerado era o ovo da serpente). O segundo, a pulverização do Carnaval de rua, de que restavam a pioneira e absoluta Banda de Ipanema e o quase esquálido bloquinho da Miguel Lemos em Copa. Carpíamos a desolação das ruas do Centro (Cinelândia e Rio Branco de passados gloriosos) e dos bairros silentes e macambúzios.

Hoje, já me conformo com a formatação atrevida da Sapucaí, espetáculo mundial a que nem os sonhos mais delirantes de Ismael Silva, Cartola ou Paulo da Portela jamais ascenderam. Quanto às ruas, a revolução foi atordoante, mágica. Os blocos se proliferaram qual coelhos em apenas uma década. E enfeitaram a cidade, regando-a com folguedos de todos os tamanhos e para todos os gostos, a que acodem hordas de turistas. O Carnaval de rua do Rio chega a competir com o Sambódromo, democratizando, abrigando criatividades, provocando a solarização e união dos foliões, que passaram a outro patamar de acesso livre ao prazer e ao lúdico. De tal maneira intensos e incessantes, que já tumultuam bairros. E até alguns de seus cronistas ressabiados, como Zuenir Ventura.

Pois este fenômeno das ruas fervilhantes carecia de um calendário, um guia que as definisse. Além de confiável aos turistas, até aqui sem informações pontuais. Este guia existe, finalmente. E pelo extenso e belo trabalho dos jornalistas Aydano André Motta e Cláudia Silva, que construíram pequena joia que organiza e premia. O do Carnaval do balacobaco liberto e sem ingressos.

O site carnavalesamba.rio ostenta a programação completa dos blocos. E agrega ainda um Banco de Bambas, ou seja, relação dos profissionais do Carnaval com telefones e endereços. Disponíveis para tudo, de festas, de fantasias, de instrumentistas a serviços individualizados. O site gratuito do Aydano é pioneiro. E poderá impor a informação. Ao menos à das ruas, aquilo “que não tem governo, nem nunca terá”.

Ricardo Cravo Albin é presidente do Inst. Cultural Cravo Albin

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