terça-feira, 29 de dezembro de 2015

Artigo de Opinião - Brasil, país de contradições - João Batista Damasceno

Durante o Advento, tempo no qual cristãos esperam a comemoração do nascimento do seu deus-menino, bancária Fabíola é condenada num linchamento midiático


O DIA
Rio - O Brasil é o país das contradições. Durante o Advento, tempo no qual cristãos esperam a comemoração do nascimento do seu deus-menino e dizem praticar a fraternidade e a paz, um fato tomou, agressivamente, as mídias sociais e o noticiário. Foi o flagrante da bancária Fabíola na entrada de um motel. A mim não interessam as razões da Fabíola para ter um amante, a crocodilagem do muy amigo ‘gordinho da Saveiro’, a ira do marido ou o interesse do cineasta indignado, mas o linchamento midiático de quem não cometera qualquer ilícito penal ou civil ou praticara qualquer ato lesivo, a não ser à expectativa de exclusividade sexual do marido traído. O clamor por justiça diante da condenação à morte, por apedrejamento, da iraniana flagrada em adultério foi esquecido, assim como a adúltera apresentada, para apedrejamento, a Cristo sob o fundamento de que a Lei de Moisés o autorizava. Fabíola foi apedrejada midiaticamente. Em pleno Advento foi esquecida uma das mais lapidares lições do deus-cristão, bem como o que faziam as mães dos que a condenaram no momento de suas concepções.

A civilidade está em crise. Na saída de um restaurante, Chico Buarque foi hostilizado por coxinhas que o acusavam de defender corrupto e de morar em Paris. Mas dentre os Coxinhas estava o neto de Mário Garnero, banqueiro que em 1985 fora acusado de fraude financeira, via Brasilinvest. O mais agressivo, que bradava contra a corrupção, era filho de usineiro acusado de grilagem e genocídio. Chico mora no Rio. Mas o neto do banqueiro tem imóveis no exterior. Morava em St. Moritz antes de se mudar para Londres, quando namorava a patricinha Paris Hilton.

Mas nem tudo são baixarias de coxinhas e de pessoas em conflito com a sexualidade. A contradição se completa quando, em momento de crise, o governador Pezão fecha hospitais e anuncia renúncia de tributos para fábrica de bebidas e montadoras de automóveis e se dispõe a pagar dívida de R$ 40 milhões da SuperVia com a Light, e o prefeito Eduardo Paes aumenta o subsídio para o Carnaval em prejuízo da Educação e Saúde. Setor sem contrariedades é o financeiro. Segue com os maiores lucros da história. Em momento de encolhimento do setor produtivo e demissões, o maior banco brasileiro fechará o ano com lucro de R$ 25 bilhões.

João Batista Damasceno é doutor em Ciência Política e juiz de Direito

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