sábado, 10 de novembro de 2018

Crônicas do Dia - Não nos livre dos livros

Rio - Os obstáculos ao se estimular os livros para a nova geração, em especial após o advento da internet, são imensos. Os apelos de um novo tipo de leitura em tópicos, mais rápida e condicionada ao entra e sai nos sites eletrônicos de textos curtos e múltiplas imagens fotográficas e vídeos, são sedutores. Há a tendência em se acumular informações, nem sempre elevando essa carga ao status do conhecimento. O tempo adquiriu uma instantaneidade nova, a que não se lamenta por existir como característica, mas se legitima posto que "sobrevivemos" virtualmente devido a ela.


Navegar é preciso, permanecer presente nos fatos, gerar fatos e se colocar como agente no processo de publicá-los no melhor estilo "furo de reportagem" nos faz crer que de jornalista e louco, hoje, todos temos um pouco. E assim, uma ida ao bar da moda com os amigos pode se transformar em notícia de muitos likes e "lacrar" - termo utilizado para designar o sucesso de uma postagem nas redes sociais.

Todo esse universo está distante dos "antigos" livros. E antes que eles se tornem de fato peças de museu; existe essa nova demanda por textos mais curtos, imediatos, diretos, porque mais do que em qualquer outro momento da humanidade: "pensar dói".

Um número cada vez maior de livrarias sendo fechadas nos grandes centros do país onde antes já existiam poucas se compararmos, por exemplo, à vizinha Argentina. Bibliotecas com verbas diminutas para manutenção. Algumas resistências como as bibliotecas comunitárias, escassas e dependendo de grupos de moradores ou organizações não governamentais.

O brasileiro, historicamente, lê pouco, e nesse quesito o Chile parece nos dar nocaute. Uma educação pública precária com escolas fechadas em vários estados e realocação de turmas, professores mal pagos, mas que ainda assim representam as poucas iniciativas criativas que pingam aqui e ali num cenário de descaso de governadores e presidência mais interessados em subir taxas. Daqui a pouco o preço do litro da gasolina será mais alto que o de uma enciclopédia inteira.

Morar no Brasil é um ato de resistência, assim como ler e viajar nos livros. A partir da reflexão de Monteiro Lobato: "Um país se faz com homens e livros" - é possível afirmar que o Brasil é uma terra com tudo ainda a ser feito, mesmo nos tempos rápidos da internet.

Ana Cecília Romeu é publicitária e escritora

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