Rio - Um pensamento (encapetado) das antigas garantia:
"O diabo quando não vai manda o secretário".
No inferno em que habitamos (sinto decepcioná-los), o mensageiro tem outro status. Quando não vai, o que quase sempre acontece, o tinhoso-teimoso-raivoso manda um ministro - às vezes um angorá, às vezes um pitbul. E aí, para se manter fiel aos métodos da liderança, vai e faz (ou fala) a bobagem que quiser. Invariavelmente, vai um primeiro, para esclarecer, e não consegue; o outro depois, para confundir mais ainda.
Em seguida, um bota a culpa no outro, fica o dito por não dito e vida que segue desgovernada, atropelando a população, o contribuinte, os mais necessitados. Estejam ou não com as carretas e caminhões de entrega em movimento.
A culpa é do outro. O inferno são os outros. Pimenta no dos outros. Cuido de mim e o outro que se exploda.
Quem é o outro?
Como o enxergamos?
E o que ele representa, de verdade?
O outro nos mete medo, por isso o satanizamos.
Em conto antológico, o mestre Rubem Fonseca põe no centro de sua narrativa um executivo de empresa bem posto na vida, sentindo-se "perseguido" por um homem que vive a lhe abordar nas ruas e a pedir dinheiro. Na imaginação da personagem, os pedidos se transformam logo em chantagem, depois em ameaças. Ele vê o seu "perseguidor" como um inimigo perigoso, assustador, fisicamente enorme e de face monstruosa.
É aí que entra a paranoia nossa de cada dia. Acuado pelo pavor "do outro", o executivo resolve eliminá-lo a tiros. Só quando a vítima cai no chão, ensanguentado e morto, vê-se que se trata de uma figura minúscula, nada ameaçadora, frágil e imberbe, quase um menino.
Reconheço que a crônica desviou-se em seu propósito primeiro. Prometeu mundos e fundos e não fez a devida entrega. Isto porque, na verdade, fundos não possuía - o que fazem a toda hora os atuais secretários do diabo.
Mas com certeza estou isento de culpa, pois quem me desviou foi o outro.
Luís Pimentel é jornalista e escritor
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