Ivanir dos Santos
Hoje, dez anos depois as nossas primeiras ações em prol da liberdade religiosa, ainda nos vemos sobre um grande caminho a ser percorrido
Rio - Em 21 de setembro de 2008, os repórteres Mariuccia Ciotta e Gabrielle Polo, correspondentes do Jornal Quotidiano Roma, publicaram uma matéria a nível internacional - "Gli afribrasiliani difendono la libertà di culto I' agressiva opera di proselitismo dele chiese evangeliche". Na mesma edição, a jornalista Marilla Cloni publicara o manifesto "A Copacabana, il primo corteo contro l' intoleranza religiosa", salientando que o ecumenismo era uma das características da cultura brasileira como uma forma de reciprocidade entre as religiões, mas que esse ecumenismo não se aplicava a religiões de matrizes africanas.Tal constatação, surgiu após os fatídicos episódios que aconteceram em 16 de março do mesmo ano, em que religiosos e religiosas de matrizes africanas foram expulsos do Morro do Dendê. No mesmo dia da matéria, adeptos de várias religiões, vestidos de branco, saíram de diferentes pontos do Rio, e de outros estados brasileiros, com um único objetivo: participar da 1ª Caminhada em Defesa da Liberdade Religiosa. Grupos religiosos e culturais, simpatizantes da causa se reuniram, na orla de Copacabana, ao som dos mais variados ritmos, cantos, falas, pedidos de respeito e pelo fim da intolerância religiosa no país.A Caminhada, sem bandeiras políticas e religiosas, é fruto de um movimento espontâneo e inter-religioso em respostas aos inúmeros casos de intolerância religiosa na cidade. Rememoramos aqui, que os casos eclodiram onde pastores das comunidades de favelas exigiam dos bandidos a conversão. As denúncias de que traficantes convertidos a igrejas independentes estavam proibindo as manifestações da umbanda e do candomblé nas favelas cariocas causaram reações, também, na Câmara dos Vereadores do Rio.
E no dia seguinte às denúncias foi criado o Disque Denúncia Intolerância, que ficava disponível 24h para registros de casos de discriminação contra adeptos de qualquer religião. Mesmo após a criação desse serviço e a solicitação de audiência pública, os adeptos das religiões de matrizes africanas se reuniram com diversos líderes, entre eles espíritas, judeus, católicos, muçulmanos, católicos, protestantes, wikanos, etc, para organizar o movimento em defesa da liberdade religiosa.O desdobramento deste evento resultou na primeira projeção de uma caminhada, que teria um objetivo duplo, expor criticamente a realidade sócio-histórica da intolerância religiosa no país, e a violência, de muitas dimensões decorrente da mesma. Com isso, tornar-se-ia possível a abertura de um espaço neutro em que fosse possível realizar o diálogo entre diferentes grupos religiosos, intelectuais, políticos e agentes midiáticos, atentando para a pluralidade de experiências religiosas presentes no Brasil. E a urgência de um debate aprofundado sobre questões concernentes à laicização do Estado brasileiro e os crimes e truculências cometidas contra grupos minoritários.Hoje, dez anos depois as nossas primeiras ações em prol da liberdade religiosa, ainda nos vemos sobre um grande caminho a ser percorrido. Por isso, precisamos continuar firmes e 'caminhando junto e com fé', promovendo ações plausíveis para a erradicação de todas as formas de preconceitos e falta de alteridade. Precisamos sempre caminha em prol do diálogo e nunca marchar!
Ivanir dos Santos é babalaô
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