Os criminosos não apenas dominam quase todas as comunidades do Rio como fazem valer seu poder sobre bairros vizinhos, a exemplo do que ocorreu no Rio Comprido e na Tijuca
29/04/2017 -
Zuenir Ventura, O Globo
As imagens e os números desses últimos dias são de uma cidade em guerra, onde se mata e se morre no varejo e no atacado, nas favelas e no asfalto, a qualquer hora do dia e da noite.
Em Copacabana, às 13h de quarta-feira, uma senhora de 76 anos levou um soco tão forte que provocou ruptura no globo ocular, tendo que ser operada para recuperar a visão. Tudo porque um assaltante, de bicicleta, não conseguiu arrancar-lhe pulseiras de apenas R$ 30. Essas gangues das duas rodas, que agem em toda a ZonaSul, são um arremedo dos “lobos solitários”.
No mesmo dia em que o impressionante close do olho roxo da vítima era estampado na primeira página do jornal, lá dentro outra foto dramática mostrava uma mãe chorando sobre um caixão a morte do filho de 13 anos atingido por um tiro no Complexo do Alemão, onde, no mesmo dia, outro jovem de 16 anos foi morto com um disparo de fuzil na cabeça.
Ao lado, a notícia de que uma médica foi baleada ao entrar por engano na Maré. Os próprios marginais se apressaram em socorrê-la antes que chegassem os inimigos da facção rival. Eles lutam contra a polícia, mas também entre si, e as vítimas são os inocentes.
O Alemão, segundo a Anistia Internacional, lidera o ranking dos conflitos, com 62 dos 184 ocorridos este ano em quatro pontos da cidade. Em seguida, vem a Maré, com 51; Cidade de Deus, com 45; Jacarezinho, 26.
Os criminosos não apenas dominam quase todas as comunidades do Rio como fazem valer seu poder sobre bairros vizinhos, a exemplo do que ocorreu com o comércio do Rio Comprido e da Tijuca, cujas lojas foram obrigadas a cerrar as portas em luto pela morte de um dos chefes do crime. Motociclistas passavam ameaçando de morte quem desobedecesse à ordem.
Se não está “tudo dominado”, como apregoam os bandidos com afrontosa arrogância, falta pouco.
Os sinais são evidentes. O mais visível é a torre à prova de explosão de granada instalada em uma das 13 favelas do Alemão, um monumento ao fim das UPPs, que foram a aposta do governo numa política de pacificação e esperança da cidade.
Essa espécie de fortaleza foi um pedido da tropa, encurralada pelos bandidos e traumatizada pelas perdas. Conforme informou o porta-voz da corporação, no estado, só este ano 58 policias foram mortos e 189 ficaram feridos.
Ao mesmo tempo, é o governador quem diz: “A gente não pode achar normal que o policial entre lá e tenha que ficar dentro de uma cabine blindada que toda hora é alvo de tiros”. Assim como não é normal a colocação de placas “Áreas de risco” para impedir o acesso a essas zonas. O normal seria que a cidade não tivesse parte de seu território controlado por traficantes e milicianos.
O Rio realmente é um local de alta periculosidade, dominado e preenchido por bandidos e marginais – demasiadamente –, observação que pode ser concluída por qualquer um. É explicito e nítido o fato de que o Rio é perigoso e tomado pela violência. Mesmo assim, é inacreditável analisar o alto índice de marginalidade crescer preocupavelmente. A hostilidade que há tempos desenvolve-se no Rio de Janeiro está totalmente fora de controle em um grau irreversível, o que o faz se destacar em relação as outras cidades. Tiroteios, guerras, homicídios, assaltos, etc. estão muito associadas a cidade, uma vez que é basicamente tudo o que se ouve sobre ela. Nas manchetes de jornais sempre surge uma notícia diferente em um local distinto revelando um novo crime. A situação está tão crítica que a cidade em relação a violência chegou a ser comparada com a Síria. Os próprios responsáveis pela segurança pública perderam o domínio sobre a ocasião, juntamente com o respeito, dada a falta de temor e inibição dos bandidos. Os papeis foram inteiramente revertidos, já que os marginais não temem aos policiais sendo visto o contrário. Sim, é correto afirmar que o Rio de Janeiro está completamente tomado por criminosos e consequentemente por crimes de um modo irrefreável.
ResponderExcluirEmilly Gomes – F9-103