É urgente dar atenção aos anos finais do Ensino Fundamental, para se alcançar a universalização de conclusão e melhorar a qualidade do aprendizado
POR RUBEN KLEIN 29/04/2017
A reforma do Ensino Médio (EM) é necessária e bem-vinda. É importante flexibilizá-lo e dar a ele um caráter terminal para muitos, com empregabilidade. O EM, porém, não é uma parte da educação básica independente do Ensino Fundamental (EF). Para ingressar nele, os alunos precisam primeiro terminar o EF. E, para se ter um EM com qualidade, é necessário ter concluído um EF com qualidade.
O gargalo está no EF. Pela Pesquisa Nacional de Amostra por Domicílio (Pnad) de 2015, a taxa de conclusão do Ensino Fundamental (pelo ensino regular, ou pela Educação de Jovens e Adultos) aos 16 anos (ou seja, com no máximo um ano de atraso), estava em torno de 76%. Infelizmente, esse valor ainda está muito abaixo dos 95% desejados pela Meta 4 do Movimento Todos pela Educação.
Aos 20 anos, essa taxa de conclusão do EF sobe para 84%. Não é possível aumentar a matrícula do EM sem, antes, aumentar a conclusão do Ensino Fundamental, que, como vimos, está longe de ser universalizada.
Muito se reportou recentemente sobre o relacionamento da população de 15 a 17 anos e o Ensino Médio, implicando um amplo abandono da escola nessa etapa, o que não é suportado pelos dados. Portanto, cabe investigar a situação dos jovens desse grupo, cerca de 10,5 milhões de indivíduos com 15 a 17 anos em 2015.
Deste grupo, 83,5% dos jovens frequentam a escola ou já concluíram o EM (64% estão no EM ou já o concluíram, e 19,5% ainda estão no Ensino Fundamental regular ou EJA). Do restante, mais da metade, quase 10% dos jovens saíram da escola durante ou após o Ensino Fundamental sem ingressar no EM.
De novo, fica evidenciado um grande problema de repetência e evasão escolar no Ensino Fundamental.
Além do problema de fluxo, o problema de qualidade de aprendizado também é grave no EF. Os resultados do Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb) 2015 corroboram essa afirmação: o percentual de alunos do 5º ano do EF acima do ponto considerado adequado em língua portuguesa é de 54,7% e em matemática é de 42,9%; no 9º ano, os percentuais caem para 33,9% e 18,2% respectivamente e no EM, para 27,5% e 7,3%. Infelizmente, em ambas as disciplinas, os valores estão muito abaixo dos 70% desejados pela Meta 3 do Movimento Todos pela Educação.
Para entender o que isso significa é preciso olhar a interpretação da escala do Saeb. Para dar um exemplo, em matemática, somente 33% dos alunos do 9º ano do EF, último dos anos finais do EF, estão acima do ponto no qual se pode dizer que dominam a habilidade de determinar o valor numérico de uma expressão algébrica de 1º grau com números naturais, ou, em outras palavras, sabem utilizar uma fórmula simples. Como esperar que a maioria dos alunos que entra no EM consiga acompanhar a matemática e as ciências da Natureza do EM?
Felizmente, os resultados do Saeb e do Ideb (que sintetiza resultados do Saeb e taxas de aprovação) mostram recentemente avanços nos anos iniciais, enquanto os anos finais estão começando a avançar, mas muito timidamente. O EM está estagnado.
O exposto acima mostra que é urgente dar atenção aos anos finais do EF, para se alcançar a universalização de conclusão e melhorar a qualidade do aprendizado. Uma medida necessária é garantir um mínimo de 5 horas diárias na escola para todo aluno no EF, como está sendo feito na Reforma do EM. A nova base curricular comum e as medidas necessárias para sua implementação vêm em boa hora para ajudar nessa tarefa.
Ruben Klein é pesquisador da Fundação Cesgranrio e ex-presidente da Associação Brasileira de Avaliação Educacional (Abave)
Leia mais sobre esse assunto em http://oglobo.globo.com/opiniao/ensino-fundamental-uma-etapa-esquecida-21274427#ixzz4fskU1bHy
Concordo plenamente com sua conclusão, é impossível ter um bom ensino médio, tendo um péssimo ensino fundamental, ou até mesmo não tê-lo por conta do forte desinteresse da parte do aluno.
ResponderExcluirPor tanto o mesmo deve buscar interesse pelos estudos, pois o ensino fundamental é a base, assim como o aluno depende de um bom desempenho no Ensino Médio para um bom rendimento numa possível faculdade.
Até porquê não podemos pensar somente no agora, mas também nas propostas de um bom futuro.