quarta-feira, 23 de novembro de 2016

Artistas destacam a diversidade cultural na infância contra o racismo

LUIZA SANSÃO
Rio - O combate ao racismo deve começar cedo e lidar com a diversidade cultural na infância é fundamental. É assim que pensam artistas como a escritora Janine Rodrigues e a estudante de Cinema da PUC Victoria Roque, que resolveram estimular o debate sobre o tema entre crianças por meio da arte. Para abordar o racismo na infância e a representatividade, ‘Princesas Negras — A história de Nuang’, de Janine, conta a história de uma princesa negra que supera adversidades por meio da força de sua cultura, e o documentário ‘Lápis cor de pele’, de Victória, discute os efeitos da ausência de representações de crianças negras nos meios de comunicação. Seus trabalhos são evidenciados hoje, Dia da Consciência Negra.


“É necessário conversarmos com as crianças sobre isso e principalmente ouvir o que elas têm a dizer. Tenho um trabalho no qual a criança é quem dá encaminhamento à história. Depois disso ela me envia um novo final da história e eu publico um E-book com estes finais que elas criaram. A ideia é mostrar que o que ela pensa é extremamente importante e, mostrar aos educadores o que esta galera está pensando. O aprendizado precisa ser horizontal”, defende Janine Rodrigues, especialista em Educação Infantil.

O projeto Piraporiando, que ela integra, promove oficinas, contação de histórias e produz conteúdos educativos culturais voltados a crianças, com temas sempre voltados à valorização da diversidade e ao combate de preconceitos enraizados na sociedade. “Diversidade é algo real, que está posto. E é lindo. Valorizar isso é importante para que não haja brecha para a propagação de preconceitos e para a manutenção de alguns estereótipos”, afirma a escritora.

Para ela, o entendimento flui quando a criança se sente parte de alguma coisa. “Acredito que as histórias podem causar uma identificação. Mesmo sem perceber, avaliamos o que estamos lendo e fazemos um exercício de reflexão sobre a história. Se tivermos histórias que tratem da diversidade, do racismo, da representatividade e também da naturalidade, sem colocar o negro sempre no mesmo lugar, podemos começar a caminhar no sentido da libertação deste câncer que é o racismo”, afirma. Ela defende mais debates sobre a história do negro. E questiona o motivo de quando se fala da história do negro, o tema é geralmente a escravidão.

Pensando nessas questões e na quebra de estereótipos que a escritora escreveu ‘Princesas Negras — A história de Nuang’, que em 2017 integrará seu próximo livro. A protagonista é “uma princesa linda, da pele negra como a mais maravilhosa pérola negra dos mares e seu cabelo crespo, mais bonito que coroa”, descreve a autora. Nuang é sequestrada e não é salva por um príncipe, mas pela força de sua história, sua consciência.

Victória destaca que desde pequenas as crianças negras são bombardeadas por conteúdos que passam através de desenhos, novelas, programas de TV, quadrinhos, livros e propagandas que praticamente não têm protagonistas negros. “Essa ausência de referências faz com que essa criança cresça achando que a sua vivência é limitada aos poucos papéis em que a população negra é representada. Por mais que essa criança nasça em uma família estruturada, ela está suscetível à mídia, que tem as características brancas/caucasianas como padrão do bom e do ideal estético”, explica Victória. Segundo ela, esses padrões são passados para as crianças negras, que crescem com dificuldades de aceitação e com a autoestima abalada.

Jornal O Dia

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