Adversários de ex-deputado comemoraram; aliados evitaram comentar.
Ex-presidente da Câmara foi detido em Brasília por ordem do juiz Moro.
Fernanda Calgaro, Gustavo Garcia e Bernardo Caram
A notícia da prisão do deputado cassado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) teve repercussão imediata entre os parlamentares que participavam de sessões nos plenários da Câmara e do Senado nesta quarta-feira (19).
No momento em que se tomou conhecimento da prisão, os deputados discutiam a votação de um requerimento. A notícia interrompeu a discussão, e os parlamentares passaram a se manifestar sobre a prisão.
Adversários de Cunha se manifestaram favoráveis à ordem de prisão, motivada por investigações da Operação Lava Jato.
Aliados do peemedebista, ex-presidente da Câmara e que chegou a ser um dos políticos mais poderosos e influentes do Congresso, evitavam comentar o episódio.
O senador Romero Jucá (RR), presidente do PMDB, partido de Cunha, afirmou que a sigla não tomará posição em relação à prisão de Cunha. "Não vamos tratar disso. Ele está sendo investigado e tem que ser respeitado o direito de ampla defesa", disse Jucá.
O Palácio do Planalto informou que não iria se manifestar sobre a prisão, assim como a Casa Civil e a Secretaria de Governo da Presidência.
Cunha foi preso em Brasília e levado em um avião da Polícia Federal para Curitiba, onde ficará à disposição dos investigadores da Lava e do juiz federal Sérgio Moro, que determinou a prisão preventiva (por tempo indeterminado).
Para o líder do PSOL na Câmara, deputado Ivan Valente (SP), um dos principais críticos do peemedebista, a prisão de Cunha “demorou até demais”.
“Demorou até demais [a prisão] porque esse é o caso mais explícito de corrupção na Petrobras e é um caso que vem sendo ventilado desde a primeira declaração dele na CPI da Petrobras, quando ele mentiu que não tinha contas na Suíça. E, a partir do momento que o PSOL entrou no Conselho de Ética, baseado em documentações que vieram da Suíça e da aceitação do Ministério Público Federal – isso já tem mais de um ano – acho que houve uma imensa cumplicidade aqui no nosso parlamento para proteger Eduardo Cunhax. Foi o processo mais longo da história do Conselho de Ética”, afirmou Valente.
No plenário da Câmara, vários parlamentares se revezaram na tribuna para comentar o episódio. Só um saiu em defesa de Cunha.
“Hoje foi o Eduardo Cunha. Amanhã, pode ser o Lula. E eu espero que ninguém utilize a tribuna para ficar fazendo esse show de pirotecnia. Portanto, a prisão é uma questão de tempo, mas agora não é motivo para a gente ficar aqui comemorando”, afirmou Alberto Fraga (DEM-DF).
A deputada Alice Portugal (PCdoB-BA) discursou a favor da prisão, mas sem deixar de fazer críticas ao juiz Sérgio Moro, responsável pela Lava Jato na primeira instância e por determinar a prisão de Cunha.
Para ela, o juiz agiu de forma seletiva ao ordenar a prisão de Cunha quando ele já havia esvaziado o apartamento funcional que ocupava em Brasília.
"É tarde a prisão porque a semana o senhor Eduardo Cunha apanhou de chinelo de uma popular no aeroporto de Brasília e hoje ele deve ter sido preso com o seu apartamento vazio. Isso nos causa espécie diante da atitude seletiva, diferenciada em relação às acusações em relação a casos de corrupção", afirmou a deputada.
O líder da Rede, Alessandro Molon (RJ), também comemorou a prisão de Cunha. "Isso provou que estávamos certos ao aprovar a cassação dele", disse, acrescentando que se orgulhava de, ao lado do PSOL, ter apresentado a representação que deu origem ao processo disciplinar no Conselho de Ética.
Para o deputado Miro Teixeira (Rede-RJ), o ex-presidente da Câmara poderá "prestar um grande serviço" à sociedade se fizer delação premiada para revelar o que sabe.
Um dos críticos ferrenhos de Cunha, Silvio Costa (PTdoB-PE) ressaltou que não estava "feliz" com a prisão, mas ressaltou que "a gente colhe aquilo que planta".
"É evidente que nenhum ser humano fica feliz com a desgraça alheia. Por outro lado, existe um ditado popular que diz que a gente colhe aquilo que a gente planta. Modéstia à parte, eu fui o primeiro parlamentar que fiz oposição a Eduardo Cunha quando ele tinha 400 aliados nesta Casa", discursou da tribuna.
Líder da minoria, a deputada Jandira Feghali (PCdoB-RJ) disse, porém, que a prisão de Cunha não poderia servir de "argumento à falsa isenção para seguir em rota com a prisão de Lula".
O deputado Daniel Coelho (PSDB-PE), vice-líder tucano na Câmara, reagiu às críticas de Jandira. "Precisamos respeitar as instituições. Não podemos aceitar a acusação de que hoje está sendo feito um jogo de cena para dar impressão de que há imparcialiade na justiça brasileira. Ora, a justiça brasileira está cumprindo o seu papel", disse.
Na tarde desta quarta, o líder do PSD na Câmara, Rogério Rosso (DF), que atuou como um dos principais aliados de Cunha na Casa, afirmou que a ação do Poder Judiciário precisa ser respeitada. Para Rosso, a prisão do peemedebista não impactará na tramitação de projetos de interesse do governo Michel Temer no Congresso.
"A consciência da Casa é tão grande com relação à necessidade das reformas que a prisão [de Cunha] não vai gerar influência", disse.
'Tropa de choque' de Cunha
Um dos integrantes da chamada "tropa de choque" de Cunha no Conselho de Ética, o deputado Wellington Roberto (PR-PR) afirmou que a prisão já era “esperada” e que agora seria precisa “esperar o desenrolar dos fatos para ver o que vai acontecer”.
“Acredito que já era esperado desde o processo de cassação e agora é esperar o desenrolar do que vai acontecer”, afirmou Roberto.
Sobre a sua atuação no Conselho de Ética em defesa de Cunha, Roberto afirmou que agiu assim porque não faz pré-julgamento de nenhum parlamentar.
“Eu não posso nem faço com nenhum parlamentar um pré-julgamento. O julgamento com o qual eu concordo é no âmbito normal como ele está sendo agora pela Justiça Federal”, justificou Wellington Roberto.
Outro aliado do peeemedebista, o deputado Paulo Pereira da Força (SD-SP), conhecido como Paulinho da Força, o próprio Cunha já esperava a prisão.
"Desde que ele foi cassado, ele já estava esperando", afirmou, acrescentando que esteve pela última vez com ele na semana passada.
Sobre a possibilidade de Cunha fazer delação premiada, Paulinho relata não ter conhecimento sobre isso.
"Depende da cabeça de cada um. Não sei dizer. Não dá para falar sobre isso", observou. Questionado a respeito do livro que Cunha pretendia lançar até o fim do ano sobre os bastidores da deflagração do processo de impeachment, Paulinho respondeu: "Agora vai ter mais tempo".
Também integrante da "tropa de choque" de Cunha, o deputado Carlos Marun (PMDB-MS), vice-líder do PMDB na Câmara, lamentou a prisão do aliado e disse que o fato o "entristece" e o "surpreende", porque ainda estava correndo o prazo concedido pela Justiça para apresentação da defesa.
Marun chegou a divulgar uma nota à imprensa dizendo que não falava com Cunha havia mais de um mês e que ainda não tem plano de visitá-lo nos próximos dias, mas que "é provável que o faça" depois.
Carlos Marun afirmou estar confiante de que o devido processo legal será respeitado e, "ao final, a justiça será feita". Ele disse ainda que espera que "as consequências políticas deste fato não sejam superdimensionadas a fim de que não se obstrua a janela de esperanç que abrimos para o Brasil ao depor constitucionalmente o governo corrupto e incompetente que nos aprisionava".
Waldir Maranhão
A sessão da Câmara desta quarta foi encerrada sem que algum projeto fosse votado. Ao deixar o plenário, o presidente interino da Casa, Waldir Maranhão (PP-MA), justificou que não havia quórum suficiente para haver alguma votação. Ele, ainda, negou que o encerramento tivesse relação com a prisão de Eduardo Cunha.
"A sessão foi encerrada porque não tinha quórum, isso aí não é um caso inusitado. Às vezes, há quórum e, às vezes, não há quórum", disse.
Questionado sobre o que achava da prisão de Cunha, Maranhão disse que somente que a Justiça brasileira "existe" e os cidadãos têm que cumprir "aquilo que a lei determina". "Dizer que esperava [a prisão] ou não [...] é um fato, é real isso, portanto, está na mão da Justiça. As garantias individuais serão estabelecidas dentro do processo”, afirmou.
Maranhão está na presidência da Câmara de forma interina porque o presidente, Rodrigo Maia (DEM-RJ), está ocupando, também de forma interina, a Presidência da República, em razão da viagem de Michel Temer à Ásia.
Conselho de Ética
Na avaliação do presidente do Conselho de Ética da Câmara, deputado José Carlos Araújo (PR-BA), que comandou o colegiado durante o processo que levou à cassação de Eduardo Cunha, a prisão já era esperada.
“Ele cavou. Se aconteceu isso com ele, foi porque ele próprio procurou”, disse.
Araújo disse que a prisão não traz instabilidade ao Congresso, já que Cunha não é mais deputado ou presidente da Câmara.
Sobre a possibilidade de que o peemedebista faça uma delação premiada, respondeu: “Ele é um homem imprevisível, extremamente inteligente. Ele deve estar com tudo planejado na cabeça, se vai fazer delação premiada, quem vai apontar”.
Relator do processo de Cunha no Conselho de Ética, o deputado Marcos Rogério (DEM-GO) avaliou que o Judiciário "fez o seu papel" ao prender Eduardo Cunha, assim como a Câmara, ao cassar o mandato do peemedebista.
"Eu conheço as acusações que pesam contra ele [Cunha], e são acusações gravíssimas. A Câmara dos Deputados fez o seu papel com a cassação de mandato dele e agora o Judiciário faz o mesmo com a investigação. Certamente que, ao final da investigação, as conclusões do Judiciário serão as de que houve crime e crimes graves contra a sociedade", afirmou o parlamentar.
Senado
No plenário do Senado, o senador Roberto Requião (PMDB-PR) ironizou a prisão de Cunha e afirmou que a sociedade aguarda "com muita atenção uma fantástica delação premiada".
Contrário ao impeachment de Dilma Rousseff, Requião disse que a prisão é um "fato novo" no processo movido contra a petista, uma vez que quem autorizou a abertura do processo na Câmara foi Cunha.
Um dos principais argumentos dos parlamentares contrários ao impeachment é o de que Cunha autorizou o processo de afastamento de Dilma por vingança.
Também em plenário, o senador Lindbergh Farias (PT-RJ) disse esperar que, com a prisão, Cunha decida fazer uma delação premiada.
"Se ele fizer delação, esse governo Temer não se sustenta por um dia”, disse o petista.
O senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) disse aguardar uma delação premiada do deputado cassado e afirmou, sem citar nomes, que algumas lideranças políticas “devem ter razões para ter medo” de uma eventual colaboração de Cunha com a Justiça.
“Eu espero, como o vigia espera a aurora, que o senhor Eduardo Cunha faça uma delação ampla, geral e irrestrita. Fará muito bem ao país. Eu não tenho dúvida que há lideranças políticas de diferentes partidos, principalmente do governo, do senhor Michel Temer, que devem ter razões para ter medo de uma delação de Cunha. Afinal, foi o Cunha o principal avalista do governo Michel Temer”, expôs Randolfe.
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