terça-feira, 4 de outubro de 2016

Artigo de Opinião - Sem Educação Física, para onde vai a escola? - Roberto Corrêa

Rio - Dois fatores determinaram o lugar do homem na escala de desenvolvimento: postura ereta, liberando os membros superiores de funções ligadas à locomoção; e, como corolário, a capacidade de manipular objetos com mãos livres e dedos opositores.


O desenvolvimento e construção da inteligência das crianças é igualmente dependente da locomoção, ampliando o campo de exploração do meio físico e da manipulação de objetos, permitindo-lhes construir concretamente conceitos como peso, tamanho, textura, cor, espaço e tempo. Quanto mais explora o meio, mais ‘inteligente’ se torna.

Menos tempo dentro das quatro paredes e mais sessões de Educação Física, nas quais correr, saltar, explorar o espaço físico, jogar com o outro, vencer, perder, cooperar, incluir e lidar com as diferenças, ampliar a capacidade sensorial e motora, construir respostas criativas e diferentes, e nossas escolas seriam mais agradáveis para os pequenos aprendizes e coerentes com as pesquisas no campo do desenvolvimento.

No que tange à Saúde, no sentido mais estrito, em um país com quase um terço da população infantil com sobrepeso, onde as doenças que têm origem no sedentarismo matam mais do que todas as outras causas mortis juntas, retirar aulas de Educação Física da matriz curricular da Educação Básica é um crime.

A cada nova reforma diminuem o espaço e o tempo destinados ao brincar, ao jogar, ao viver conceitos (não somente ler sobre) que são muito mais facilmente construídos, assimilados e incorporados quando apresentados de forma conceitual, atitudinal e experimental.

Isso é Educação Física: estimular a criança a resolver situações-problema no calor da imersão. Não é tratar em tese... é sentir! Não é ler no livro...é viver!

De acordo com a Res. CNE 7/10, as aulas de Educação Física não precisam ser ministradas por especialistas nos anos iniciais do Ensino Fundamental. A Base Nacional Curricular Comum a exclui da Educação Infantil. A MP 746 acaba com sua obrigatoriedade no Ensino Médio.

Vai ser difícil a escola dar certo. Onde estão os “educadores de vocação” (Rubem Alves) nesta discussão?

Até lá, experimentaremos muitas aventuras. Nossos estudantes merecem algo melhor.

Roberto Corrêa
Professor do CAp Uerj 

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