quinta-feira, 26 de maio de 2016

Crônicas do Dia - Do bom e do pior

Zuenir Ventura, O Globo

Nestes movimentados primeiros oito dias do governo Temer, houve um pouco de tudo, do bom e do pior.


Entre os acertos está, segundo os analistas, a escolha da equipe econômica, com Henrique Meirelles à frente. Um destaque para o novo presidente da Petrobras garantindo que não haverá indicações políticas, isto é, cessa o aparelhamento partidário que, pela corrupção, transformou uma empresa que era orgulho em vergonha nacional.

Como um bom paradoxo, a constatação de que as melhores escolhas de um governo misógino foram duas mulheres: Maria Silvia Bastos para o BNDES e Flávia Piovesan para a Secretaria de Direitos Humanos.

No quesito polêmica, a extinção do Ministério da Cultura, uma medida precipitada que mobilizou a classe artística num protesto como há muito não se via.

Entre as muitas convidadas ou sondadas que recusaram o cargo de secretária, houve até quem recusou o que sequer recebeu, o convite ou a sondagem.

A verdade é que o MinC morto acabou sendo mais valorizado do que em vida, quando acumulou mais dívidas do que elogios. Chegou a dar calote até em prêmios, como fez com a artista plástica Thereza Miranda, que até hoje não recebeu os R$ 300 mil do Prêmio Marcantonio Vilaça, concedido pela Funarte há sete meses.

É possível que Temer agora consiga pacificar a área com a escolha de Marcelo Calero, que teve um bom desempenho ocupando o cargo equivalente na prefeitura do Rio e chega às novas funções querendo diálogo e, o que é mais importante, prometendo sanear a herança deixada, pagando as dívidas acumuladas. Thereza, aos 87 anos, agradece.

O que parece não ter conserto é a decisão do presidente interino de nomear como seu líder na Câmara o deputado André Moura, que tem como credenciais a amizade com Eduardo Cunha e sua folha corrida, onde aparece como réu no STF, como condenado por improbidade administrativa e com inquéritos na Lava-Jato, além de tentativa de homicídio.

Temer poderá alegar que, embora Moura pertença ao PSC, um partido com apenas nove deputados, representa o centrão, que, com seus 304 membros, facilitará a aprovação dos projetos impopulares que pretende lançar, embora isso lhe custe a suspeita de ser refém de Cunha.

Para desfazer essa impressão, o presidente afastado da Casa afirmou, enquanto se explicava na comissão de ética: “Não tem um alfinete no governo Temer indicado por mim”. Nessa altura, os conhecidos alfinetes não estavam nem aí. Aliás, o grande momento do show em que, durante nove horas, ele negou mais uma vez ter dinheiro lá fora — tudo é do trust — foi quando o deputado Júlio Delgado quis saber quem tinha bebido o vinho de mil dólares numa de suas milionárias viagens ao exterior: “O senhor ou o trust?”

Para desmoralizar o cinismo, só mesmo o humor e a ironia.

Zuenir Ventura é jornalista

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