Os ocupantes reivindicam não apenas pelos seus educadores, mas por melhores condições de ensino. Trata-se, portanto, de um posicionamento de defesa do espaço escolar público
O DIA
Rio - Cerca de sessenta escolas da rede estadual do Rio estão ocupadas pelos estudantes. Está aí uma realidade inesperada e que nos faz repensar sobre dois discursos cristalizados no senso comum: o primeiro é que estamos diante de uma geração pouco participativa dos problemas cotidianos; e o segundo é que esta mesma geração não tem nenhum comprometimento com o espaço escolar.
Acho que poucos professores e ou educadores — e eu me incluo nesta lista —, imaginariam que tal ação acontecesse de fato. Que moças e rapazes, com ou sem apoio de suas famílias, resolvessem abrir mão do seu dia a dia e do seu futuro (alguns estão no último ano do Ensino Médio) por uma causa maior: a de seus professores. E mais do que isso, pela causa da Educação.
Os ocupantes reivindicam não apenas pelos seus educadores, mas por melhores condições de ensino. Trata-se, portanto, de um posicionamento de defesa do espaço escolar público. Por meio de alguns relatos que me chegam, o ato de ocupar, longe de ser rebeldia de adolescentes, me parece uma forma de se apossar, cuidar de um bem público, de lutar por uma educação de qualidade, que, temos que reconhecer, vem sendo deixada de lado, há bastante tempo.
É lógico que a ocupação envolve questões delicadas. Da segurança dos próprios estudantes, isolados nas escolas, à condução das reivindicações. Soma-se a isso tudo a idade destes alunos: na grande maioria, menores de idade. Pergunto-me se esta é a forma mais viável e democrática que eles têm de fazer valer a representatividade. Esgotaram-se todos os diálogos possíveis? Todas as etapas de negociação? Haveria uma certa ingenuidade e idealização nestas ações de ocupação?
Se de um lado é bonito ver estudantes exercendo a sua autonomia e criticidade, lutando por um espaço escolar público de qualidade, por outro é preocupante observar a forma como isso se estabelece e vem se desenvolvendo. Que tipo de consequências esta ação pode desencadear?
Neste cenário, há ainda os estudantes que são contra a ocupação. As famílias, dos que ocupam e dos que não ocupam, que não sabem lidar com a situação. A sua família saberia? E, certamente, alguns professores. Afinal, incentivar ou não a ocupação? Qual é o limite?
Marcus Tavares é professor e jornalista
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