24/04/2016
Sob o apelo de combate à corrupção, a sessão da Câmara, com poucas exceções, apresentou cenas bizarras e comportamentos incompatíveis com o exercício do cargo
O DIA
Rio - Há pouco mais de uma semana assistimos a um dos espetáculos mais tristes da história do país. Sob o apelo de combate à corrupção, a sessão da Câmara, com poucas exceções, apresentou cenas bizarras e comportamentos incompatíveis com o exercício do cargo legislativo. Uma amostra, ao vivo, da postura lamentável de boa parcela da nossa classe política. Democracia não é isso.
A começar pelo clima de festa, com fitas e bandeiras, as atitudes de muitos deputados destoavam do momento dramático que vive o Brasil. O impeachment do cargo mais alto do Poder Executivo é para qualquer país motivo de preocupação e seriedade. O que está em jogo é a nação, seu crescimento, sua economia e todo seu povo que vem sofrendo as consequências de uma guerra política que parece não ter limites.
A deputada Raquel Muniz (PSD/MG), por exemplo, ao justificar o voto, exaltou que o Brasil tem jeito, associando a gestão do prefeito de Montes Claros, em Minas. Euforicamente, com bandeira em punho, repetiu seu voto em gritos. Porém, ironicamente, o destino foi rápido e, em 24 horas, o prefeito, seu marido, foi preso pela Polícia Federal.
Mais desprezível ainda foi atitude do deputado Jair Bolsonaro (PSC/RJ) que ao revelar seu voto homenageou o coronel Carlos Ustra, primeiro militar reconhecido pela Justiça brasileira como torturador e que foi responsável direto pela tortura da presidente Dilma. O deputado é exímio defensor da ditadura, mas o faz em instituições garantidas pela democracia, e protegendo-se sob imunidade parlamentar para proferir discurso de ódio. Atos como o dele demonstram a fragilidade da nossa democracia, golpeada com um impeachment sem comprovações claras de crime. A bandeira do combate à corrupção volta a ser lastreada como razão para rupturas constitucionais. Um torturador é exaltado na Câmara e as famílias, instituição privada, viram fundamentos para votos sobre bases fundamentais de instituições públicas.
A votação deixou estampado o frágil quadro democrático, com show comandado por Eduardo Cunha, ele sim, marcado como réu de diversos processos. É evidente que a solução não está no impeachment, mas em reformas de base e política verdadeira, preservando e fortalecendo as instituições democráticas.
João Tancredo é advogado
Nenhum comentário:
Postar um comentário