Denise Fraga
Não
estou dando conta. Eu era do tipo que esquecia o celular dentro da bolsa e o
usava como um orelhão portátil. Agora carrego-o ao meu lado como um
cachorrinho.
Ainda
consigo deixá-lo no silencioso, mas, cada vez que preciso usá-lo, vejo um mar
de pontinhos verdes enfileirados na tela acusando mensagens e chamadas.
Resolvo telefonar antes de checá-las
e, num clique mágico, jogo lá pra dentro um monte de gente embrulhada que nem
sempre lembro de tirar do pacote depois.
Tudo
parece estar se complicando. Prometeram me ajudar e cada vez tenho mais
trabalho pra fazer nesse negócio que só ia facilitar a minha vida. Se quero
saber se alguém quis falar comigo, preciso abrir o SMS, o WhatsApp, ver as
últimas chamadas, a caixa postal e os e-mails. Isso porque não tenho Facebook.
Se fico com a campainha ligada pra
responder as chamadas na hora, viro uma dessas pessoas que, a cada plim, olham
suas telinhas e depois entram em câmera lenta, falando uma palavra por vez,
parecendo ter tomado alguma coisa, porque simplesmente acreditam que podem
mesmo digitar embaixo da mesa nos fazendo crer que continuam na conversa. E
ninguém diz que o rei está nu. Estamos todos fingindo que é normal. Está
ficando mesmo normal existir pela metade. A coisa é poderosa. É areia movediça.
Mesmo nos debatendo, entramos até o pescoço.
Nunca vi algo ser tão rapidamente
assimilado como este tal de WhatsApp! WhatsApp é o Facebook disfarçado em SMS
que entrou em nossas vidas com a mesma velocidade com que saiu o fax. Abri as
portas pra ele, louvando suas virtudes. De repente, os grupos! Não quis ficar
de fora do grupo formado por minha família. Mais serviço!
Topei a parada porque é bem verdade que alguma parte dessa rede nos une
de verdade, é bonito de ver. Mas, no último domingo, estávamos todos juntos, em
carne e osso, e muitos de nós ainda postavam no grupo. Uns viam um vídeo
perdido, outros uma foto... O que acontece? Vamos combinar? Está esquisito.
Nenhum comentário:
Postar um comentário