A net exige a nossa atenção com uma
insistência muito maior do que jamais ousaram a televisão, o rádio ou nosso
jornal matinal. Observe um garoto enviando texto a seus amigos ou uma estudante
universitária examinando a listagem de novas mensagens e pedidos no seu
Facebook ou um empresário rolando os e – mails no seu Black – Berry – ou
considere a si mesmo quando você entra com palavras – chaves no campo de busca
do Google e começa a seguir uma trilha de links. O que você vê é uma mente
consumida por uma mídia. Quando estamos on – line, frequentemente estamos
desligados de tudo o mais que está ocorrendo ao nosso redor. O mundo real se
afasta enquanto processamos a enxurrada de símbolos e estímulos que é despejada
pelos nossos dispositivos.
A interatividade da net também amplia
esse efeito. Como muitas vezes estamos usando nossos computadores em um
contexto social, para conversar com amigos ou colegas, para criar “perfis” de
nós mesmos, para difundir nossos pensamentos através de postagens em blogs ou
de atualizações do Facebook, a nossa reputação social está, de um modo ou outro,
sempre em jogo, sempre em risco. A autoconsciência resultante – às vezes mesmo
o temor – amplifica a intensidade do nosso envolvimento com a mídia. Isso é
válido para todos, mas mais particularmente para os jovens, que tendem a ser
compulsivos no uso dos seus telefones e computadores para enviar textos ou
mensagens instantâneas. Os adolescentes de hoje tipicamente enviam ou recebe
uma mensagem a cada minuto durante o seu período de vigília. Como observa o
psicoterapeuta Michael Hausauer, os adolescentes e outros jovens adultos têm um
“enorme interesse em saber o que está acontecendo nas vidas dos seus pares,
somado a uma enorme ansiedade em estar dentro da roda”¹. Se pararem de enviar
mensagens, arriscam – se a se tornar invisíveis.
Nosso uso da internet envolve muitos
paradoxos, mas aquele que promete ter a maior influência no longo prazo sobre
como pensamos é que ela prende a nossa atenção apenas para quebrá – la. Focamos
intensivamente na própria mídia, na tela piscante, mas somos distraídos pela
rápida oferta de estímulos e mensagens competindo entre si. Quando e onde quer
que estejamos conectados, a net nos presenteia com uma apresentação
incrivelmente sedutora. Os seres humanos “querem mais informação, mais
impressões, mais complexidade”, escreve o neurocientista Torkel Klingberg.
Tendemos a “ procurar situações que exigem perfomance concorrente ou situações
nas quais somos esmagados por informações.” Se a lenta procissão de palavras
através de páginas impressas refreava o nosso anseio de sermos inundados por
estímulos mentais, a net é indulgente em relação a ele. Ela nos devolve ao
nosso estado natural de desatenção “ de baixo para cima “, enquanto nos
apresenta muito mais distrações do que nossos ancestrais jamais tiveram que
confrontar.
Nem todas as distrações são ruins.
Como a maioria de nós sabe por experiência própria, se nos concentrarmos com
intensidade demasiada em um problema difícil, acabamos sempre dando voltas no
mesmo lugar. O nosso pensamento se estreita e lutamos para termos ideias novas.
Porém, se deixarmos de prestar atenção ao problema por um tempo – se “dormirmos
com ele” -, muitas vezes voltamos a ele com uma nova perspectiva e um surto de
criatividade. A pesquisa conduzida por
Ap Dijksterhuis, um psicólogo holandês que lidera o Laboratório do Inconsciente
da Universidade Radboud, em Nijmegen, indica que tais quebras de atenção dão à
nossa mente inconsciente tempo para lidar com o problema, incluindo informações
e processos cognitivos não disponíveis para a deliberação consciente. Seus
experimentos revelaram que em geral tomamos melhores decisões quando desviamos
nossa atenção de um desafio mental difícil por um tempo. Mas o trabalho de
Dijksterhuis também mostrou que os nossos processos de pensamento insconsciente
não se envolvem com um problema até que o tenhamos definido clara e
conscientemente. Se não tivermos em mente um particular objetivo intelectual,
escreve Dijksterhuis, “ o pensamento inconsciente não ocorre”.
A desatenção constante que a net
encoraja – o estado de ser “distraído da distração pela distração”, para
emprestar outra frase de Quatro quartetos de Eliot, - é muito diferente da
espécie da distração temporária, proposital, de nossa mente, que refresca nosso
pensamento quando estamos buscando uma decisão. A cacofonia de estímulos da net
dá um curto-circuito tanto no pensamento consciente como no inconsciente,
impedindo que a nossa mente pense profundamente ou criativamente. Nosso cérebro
se transforma em simples unidades de processamento de sinais, conduzindo
informação para dentro da consciência e depois para fora.
[...]
Nicholas Carr. A geração superficial:
O que a internet está fazendo com nossos cérebros. Trad.: Mônica Gagliotti
Fortunato Friança. Rio de Janeiro: Agir, 2011. P. 164 – 166. ( Fragmentos ).
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