A crescente polarização observada na cena política traz à luz a incivilidade presente nas atitudes e comportamento de atores políticos, sem distinção possível entre esquerdistas e direitistas
O DIA
Rio - O lamentável episódio das agressões a Chico Buarque, um dos maiores expoentes da música brasileira de todos os tempos, provocou justa indignação não apenas entre seus fãs, como também entre os fãs das liberdades democráticas.
A cena da agressão filmada e difundida nas redes sociais serviu para revelar a instrumentalização política de direitos fundamentais através dos debates que se sucederam, notadamente quanto às liberdades garantidas pelo Estado de Direito nos regimes democráticos, como a liberdade de expressão e de organização. Um jogo de aparências no qual finge-se defender princípios que em inúmeras ocasiões foram ou são desrespeitados como se um direito tivesse apenas valor abstrato, dissociado dos atos que praticamos e do qual fazemos uso exclusivo em função das circunstâncias.
Episódios como o apedrejamento do ônibus do presidente Sarney numa das visitas ao Rio, a invasão e depredação da fazenda do presidente Fernando Henrique, a agressão física ao governador Mario Covas em pleno combate ao câncer pelos professores paulistas e o longo acampamento diante da residência do governador Sérgio Cabral, submetendo a família a toda sorte de tensões e constrangimentos, ganharam destaque. Manifestações antidemocráticas, desrespeitosas e intolerantes.
A partir de certo momento, passamos a conviver com as ofensas à presidente Dilma nos jogos da Copa do Mundo, ao ministro Mantega e esposa em visita a hospital, ao presidente Lula no desembarque no aeroporto, ao ministro Rossetto durante um voo (semelhantes às sofridas por Chico Buarque). Todas: manifestações antidemocráticas, desrespeitosas e intolerantes.
A crescente polarização observada na cena política traz à luz a incivilidade presente nas atitudes e comportamento de atores políticos, sem distinção possível entre esquerdistas e direitistas, dado que suas práticas e atitudes em tudo se assemelham.
Na batalha das ofensas, a vítima aparente é o ofendido; porém, além deste, atingem-se direitos fundamentais assegurados aos brasileiros, como o direito à liberdade de opinião e escolhas individuais, à privacidade da vida pessoal e a legitimidade daqueles que ascendem ao poder pelo voto popular.
Sergio Poubel: Assessor Especial da Secretaria Estadual de Governo
Nenhum comentário:
Postar um comentário