No Brasil, com raras exceções, o Ministério da Educação sempre foi moeda de troca política; não estranha, pois, que nossa situação educacional seja tão ruim. No nível superior, pesquisas internacionais mostram que, embora sejamos a oitava economia do mundo, não termos uma universidade sequer entre as cem melhores. No primeiro e no segundo ciclo, pesquisas baseadas nos dados do PISA (sigla em inglês que se refere ao Programa Internacional de Avaliação do desempenho estudantil) revelam que, entre 70 países, o Brasil fica nos últimos dez lugares, ou seja, entre a sexagésima e a heptagésima posições. Entre os jovens que completaram 15 anos de idade, 70% não atingem o nível internacionalmente desejável em matemática, o mesmo acontecendo com 60% em ciências e pelo menos 50% no conhecimento do idioma português. Tem-se estimado que pelo menos 30% dos nossos jovens são “analfabetos funcionais”, quer dizer, pessoas que conseguem ler um bilhete simples, mas não conseguem entender uma receita de bolo.
O quadro acima descrito não se deve a um fator único. Deve-se a um complexo de causas. No primeiro e no segundo ciclos, chama a atenção a baixa capacitação dos professores. Precisamos melhorá-la muito, rapidamente e a baixo custo. Cabe também especular que nossa juventude se dedica aos estudos com menos afinco que a de outros países, mas esse fator remete a um outro, ainda mais complexo. Ao contrário do que se observa em países como Japão e Coréia do Sul, que aparecem nos primeiros lugares no desempenho educacional, no Brasil, em média, os pais sabem menos que os filhos. Não têm condições de acompanhá-los nos estudos, de orientá-los e proporcionar-lhes o necessário reforço.
Porém, o fator mais importante parece-me ser a indiferença e a baixa pressão da sociedade sobre as autoridades educacionais e as escolas. Isso, por sua vez, decorre da inexistência de uma visão realista do quadro atual. A sociedade sabe que ele é ruim, muito ruim, mas ignora que ele é péssimo, calamitoso. A manter-se assim, o futuro do país e de cada futuro cidadão continuará seriamente comprometido.
Bolivar Lamounier - Revista Isto é - 15/07/2020
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