A técnica que mistura atores reais e animação, criada pela Disney, virou a saída para lotar as salas de exibição diante da concorrência das séries de televisão e dos videogames
A história só se repete como farsa, diz o filósofo. No Mundo da Fantasia da Disney, a história é reprisada como live-action. O longa-metragem “Aladdin”, que estreou em 23 de maio, é o 13.º remake de desenho animado nesse formato. O conceito de live-action, ou ação real, é tão antigo quanto o cinema.
A técnica consiste em misturar imagens reais em movimento com truques de animação.
Aos poucos, virou um gênero hiper-realista que compreende imagens geradas digitalmente adotadas sobretudo pelos videogames. Enquanto a televisão assimilou o cinema com as séries, a indústria do cinema se obrigou a ampliar a estética da animação gráfica e assim conquistar a sensibilidade das novas gerações.
Em 2019, a Disney intensificou a produção das adaptações em ação real, investindo na alta tecnologia para ocultar a baixa imaginação. O motivo é simples, segundo o presidente dos estúdios, Robert Iger: reempacotar clássicos do século passado com atores reais e diretores famosos gera lucros bilionários. “Em uma semana, ‘A bela e a fera’ obteve uma bilheteria maior que a que o filme original conseguiu durante todo tempo de exibição”, disse Iger, em referência ao desenho animado de 1991, remodelado em 2017. O filme arrecadou US$ 1 bilhão, incluindo o faturamento em streaming e DVD.
Dumbo no limbo
A aposta do remake “Aladdin” segue a trajetória segura de seus antecessores. A esperança de Iger é que ultrapasse “A bela e a fera” e faça os investidores esquecerem da live-action de “Dumbo”, dirigida por Tim Burton, lançada em março, cujo faturamento atingiu US$ 111 milhões, modesto para os padrões da Casa do Rato (Mouse’s House), como a companhia é chamada. Ela tem expandido as operações em Hollywood a níveis que teriam espantado Walt Disney, fundador da empresa em 1923, idealizador dos longas de animação nos anos 1930 e dos brinquedos e parques de diversão na década de 1950
Depois de anexar a Pixar Studios, a Disney comprou a Lucas Film – corporação de George Lucas responsável pela saga “Star wars”–, a Fox, a franquia “Avatar” e a Marvel, com sua galeria de super-heróis que gera blockbusters. Até o fim do ano, vai lançar um serviço de streaming para derrotar o Netflix, para o qual não licencia mais filmes. “Não podemos ficar parados e assistir às coisas mudarem”, afirma Iger.
O desenho “Aladdin” estreou em 1992, no tempo em que a indústria de entretenimento acreditava na fusão entre desenho e musical. A trilha de Alan Mencken é mantida, com o acréscimo de uma canção, “Speechless”, a cargo da princesa Jasmine (Naomi Scott). Além da música, o visual do filme lembra o do desenho, mas com a presença ostensiva de efeitos visuais. A atração é o astro Will Smith como gênio. “Foi a experiência mais desafiadora em 30 anos de carreira”, disse. Ele imprimiu ineditismo às coreografias e aos números que ficaram famosos na voz de Robin Williams, e deu um tom de rap às falas. “Vou te fabulizar”, diz o gênio quando transforma Aladdin em príncipe, num improviso de Smith que seduziu o diretor inglês Guy Ritchie. No set de filmagem, Ritchie explorou as possibilidades da live-action, que, segundo ele, exige uma interação mais intensa entre o elenco e a equipe técnica do que no cinema tradicional. Outra alteração do diretor foi converter Aladdin (Mena Massoud) em um ladrão politicamente correto e Jasmine em mulher empoderada. “Demos uma voz nova e forte a Jasmine”, afirmou Ritchie. “Sem abandonar a fidelidade ao original, procuramos unir nostalgia e atualidade.” É o que a Disney almeja sempre que reconta suas histórias.
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