Na última quinta-feira, o presidente Jair Bolsonaro visitou a sede do Ministério da Educação. Pela desenvoltura linguística que apresenta em seus discursos de improviso, tenho a impressão de que ele nunca chegou tão perto de um organismo que tenha a palavra “Educação” em seu nome. E o presidente saiu do ministério cheio de conhecimentos novos. “Dia a dia, né, a gente vai ficando velho e vai aprendendo as coisas.” Como se vê, o presidente descobriu que o ser humano envelhece à medida que o tempo passa. Ele aprendeu ainda que, no Brasil, são feitas mil cirurgias de amputação de pênis, por ano. “Por falta de água e sabão”, explicou o presidente. Chegamos ao fundo do poço, acrescentou.
Vem cá, a gente passou três meses com um ministro da Educação trapalhão, ficamos preocupados com o futuro da pasta, aí entra um ministro novo e, na primeira visita ao ministério, o que o presidente Bolsonaro tem a dizer é que está disposto a ensinar o povo a lavar o pênis? Nada disso. Tem mais. Na mesma quinta-feira, o presidente adiantou o que o Ministério da Educação está preparando. Preocupado com o fundo do poço, o presidente provou que o poço sempre pode ser mais fundo e anunciou seu primeiro projeto na área de educação: parar de investir em cursos de Filosofia e Sociologia. “O que a gente tem que ensinar para as crianças e para os jovens?”, perguntou, e ele mesmo respondeu: “poder ler, escrever e fazer contas”.
Não é a primeira vez que Bolsonaro fala nesta meta. Ler, escrever e fazer contas parece ser uma obsessão presidencial. Quer saber? Eu entendo a preocupação do presidente. Um de seus filhos, Carlos, todos os dias, ao postar mensagens incompreensíveis no Twitter, demonstra que escreve muito mal. Eduardo, outro de seus filhos, também no Twitter, mostra sua incapacidade de respeitar regras de concordâncias verbal e nominal.
De Flávio, o terceiro filho, confesso que não sei muito. Desde que começou o Caso Queiroz, ele tem sido discreto nas redes sociais (por falar nisso, cadê o Queiroz?). E o próprio Bolsonaro pai costuma expor suas dificuldades de leitura diante de um singelo teleprompter. Resumindo, a Família Bolsonaro mal sabe ler e escrever. Tem que mudar isso aí.
Quanto a fazer contas... é estranho que o presidente esteja atacando os cursos de Ciências Humanas, como se eles não servissem para nada. “O ministro da Educação, Abraham Weintraub, estuda descentralizar investimento em faculdades de Filosofia e Sociologia (Humanas)”, disse o chefe da Nação na mesma quinta-feira, depois de sua produtiva visita ao Ministério da Educação. Não é importante saber fazer conta?
Aparentemente, ele não sabe que Economia e Contabilidade fazem parte do grupo de Ciências Humanas.
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O ministro da Cidadania, Osmar Terra, diz que o novo limite de R$ 1 milhão para produções culturais beneficiadas pela Lei Rouanet foi escolhido com base na média dos valores de projetos apresentados ao antigo Ministério da Cultura. Segundo ele, 92% de todas as propostas ao benefício da isenção fiscal não ultrapassavam este limite. Agora, me explica, se não vai fazer diferença, então pra que mudar?
Artur Xexéo - Jornal O Globo - 28 de abril de 2019
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