Amled Julião Rodrigues
Resumo: O ato de ler está contido no nosso dia-a-dia, temos vários tipos de leitura dentro da informativa e o lazer, o exercício da leitura para o indivíduo é compreendê-la mesmo com muita informação alcançada, não é presumível; contudo, o ato de ler é imprescindível na construção do saber. Pode-se afirmar que ela é uma fonte admissível de conhecimento, todavia por permitir não apenas a decodificação das palavras, ou textos aleatórios, mas por possibilitar uma ampliação na leitura do mundo que o cerca.
● 1- O CONCEITO DE LEITURA E SUA TRAJETÓRIA HISTÓRICA
A alfabetização é um dos instrumentos fundamentais para que o indivíduo construa seu conhecimento e exerça a cidadania adquirindo assim o domínio da leitura e escrita. Todavia, durante séculos, a base dos ensinamentos era oratória, a leitura e a escrita eram restritas aos nobres, ou seja, a elite privilegiada. Ainda na Idade Média uma minoria era alfabetizada, neste período a leitura era destinada aos que seguiam a vocação religiosa.
O ato de ler tem sido ao longo da história uma prerrogativa das camadas dominadoras; sua assimilação pela camada de base popular denota a vitória de um elemento indispensável não somente à preparação cultural, como ainda à modificação de suas categorias sociais. (SOARES, 2004, p.48)
No final do século XI, com o crescimento do comercio, e a igreja já não exercendo influência sob o ensino, desponta o desenvolvimento econômico e social e surge a necessidade de instruir a população. Desta forma, surgem as primeiras escolas públicas.
Ao longo da história e conforme o interesse social as obras literárias foram assumindo diferentes concepções. Atualmente, tornou-se mais abrangente do que uma simples decodificação de símbolos, ela passa a ser vista como uma ferramenta capaz de ampliar o entendimento que o indivíduo tem do mundo.
A nova abordagem da literatura apresentou-se objetivamente com interesse de revogar os antigos conceitos que ao longo da história ficavam presos aos diagnósticos projetados que não proporcionavam rudimentos para atingir a atmosfera em que o ser humano estava exposto.
Segundo Carleti (2007), a leitura é a forma mais formidável para a aquisição do conhecimento na edificação de um sujeito crítico, atuante na sociedade. Ler é o jeito clássico de se agregar valores intelectuais:
No decorrer da assimilação e armazenamento da leitura ilimitada quantidades de células cerebrais estão trabalhando incessantemente. O ajuste de integração de ideias em pensamentos e composições maiores de linguagem institui, concomitantemente, um crescimento cognitivo e um desenvolvimento de linguagem. A ininterrupta reprodução desse artifício procede num adestramento cognitivo de característica peculiar. (CARLETI, 2007, p.2).
Segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais de Língua Portuguesa:
A interpretação e compreensão do texto se dão na prática da leitura, onde o indivíduo alcança essa abrangência cognitiva tendo com pressuposto desígnios, de seu entendimento sobre o tema, sobre o autor, e conhecimento sobre a linguagem etc.
Não se discute a extração de conhecimento, decifrando cada letra ou palavra distinta. Refere-se a uma tarefa que alude táticas de triagem, antecipação, dedução e investigação, sem as quais é impossível habilidade. É o uso dessas metodologias que viabiliza dominar à medida que se vai lendo, consentindo adotar deliberações diante das implicações de compreender, progredindo na procura por elucidações, validando no texto hipóteses perpetradas. (PCN: LÍNGUA PORTUGUESA, p. 69-70)
Observa-se que a prática da leitura sofre modificações de acordo com as transformações da
sociedade. A humanidade cresce, expande seus horizontes e os livros impulsionam esse avanço, dependendo de sua proposta educativa. Em muitos momentos podem ser usados como armas contra a alienação cultural, outrora para imortalizar fatos, acontecimentos, a história social, política, religiosa, ficção e tantos outros tipos de textos.
A linguagem, as letras, o enfoque podem sofrer alterações, todavia, a essência do poder da leitura permanece imutável. Desde o primeiro contato com a leitura seja por meio de pedras, tábuas, papiros, couros, manuscritos, folhas, livros, até a chegada aos monitores de computador ou telas dos mais diversos aparelhos eletrônicos, nota-se a influência em que a leitura exerce sobre a sociedade. Seja com enfoque informativo, acadêmico ou de entretenimento, o ato de ler provoca um afastamento inevitável da zona de conforto e acomodação, transpondo o leitor a um
universo de possibilidades e questionamentos. Motivo esse, que em muitos momentos históricos a leitura foi considerada subversiva. No Brasil, durante o período da ditadura militar, muitos títulos foram confiscados e o simples fato de possuí-los já poderia ser visto como um crime
contra a nação, cabendo inclusive punições severas.
Relatar a história da leitura tendo como pano de fundo a sociedade brasileira é importante destacar que o início de sua trajetória, se deu com a chegada dos catequizadores, que a partir de seus ensinamentos religiosos perpassavam seus conhecimentos aos índios. Outra marca evidente nesse cenário é o interesse dos autores desse período retratarem as paisagens e a nova civilização que se formava. Os textos eram marcados de superficialidade intelectual, com o passar do tempo, as obras foram ganhando foques sentimentais, reuniam opiniões diferentes, todavia, em meados do século XIX, enfim, a sociedade literária agrega mais intelectuais, frequentadores de teatros e leitores de folhetins e homens de letras.
Agregações, grêmios, clubes de leitura e análogos não são ações enclausuradas. Integra, na união, a caminhada em prol de uma cultura letrada. Sendo assim, associações, entidades e bibliotecas instituem uma rede; e é seu trabalho contínuo e incessante que favorecem a prática da leitura e escrita no meio social. (LAJOLO; ZILBERMAN, 1991, p. 139).
Conforme aconteciam as mudanças sociais, políticas e econômicas, as leituras foram assumindo formas distintas. As escolas e bibliotecas constituíram acervos literários que garantem o estudo e o entendimento dessas transformações.
Pondera-se a relevância da presença literária na vida do ser humano de maneira intensa, direcionando-os nas atividades desenvolvidas diariamente, seja no trabalho, no ambiente escolar ou em casa. O ato de ler desperta no indivíduo, novos aspectos de vida, possibilitando a ascensão a níveis mais elevados de desenvolvimento cognitivo.
Assim como o indivíduo aprende a falar, a caminhar, a ler e escrever, ele também precisa ser
estimulado ao hábito de ler. A família pode facilitar o acesso a esse universo literário, todavia, são facilmente encontrados pais e mães que também não exercem essa prática. Ler, escrever, ser alfabetizado, não é simplesmente ter acesso mecânico às letras e palavras, é antes de tudo, compreender a logística que vincula a linguagem e a realidade. Um sujeito que lê abrange o mundo que o cerca e aguça sua capacidade de questionar, criar hipóteses e argumentar com mais propriedade e confiança. A leitura pode ser considerada como uma preciosa ferramenta facilitadora do desenvolvimento intelectual e social dos educandos. Todavia é necessário permitir ao aluno condições para que desenvolva hábitos de leitura naturalmente, pelo simples prazer da leitura:
(...) a metodologia alfabetizadora exerce uma função de identificação. A questão do educando precisar da contribuição do educador, assim, como se estabelece em outras relações pedagógicas, não deve fazer desta experiência menos criativa e responsável na aquisição do conhecimento da escrita e da leitura, não se deve estar nula. (FREIRE, 1989, p.28,29).
Todavia, algumas pessoas afirmam não ter hábito da leitura, é necessário que haja um estímulo contínuo para o contato entre o indivíduo e o livro. Precisa desmitificar e desassociar a ideia da leitura como prática do ócio, de uma válvula de escape do trabalho.
A leitura precisa ser entendida como elemento indispensável na edificação do conhecimento, é necessário que a sociedade enxergue a leitura sob esse prisma. Neste contexto a escola torna-se o palco ideal para essa conscientização, e o professor assume a posição desafiadora de mediador dessa prática, concomitante com o trabalho desenvolvido por toda a comunidade escolar, inclusive a família. A importância dessa postura profissional é irrefutável no ambiente escolar, contudo sua realização pode ser uma tarefa difícil.
A presença dos textos se faz notório em diferentes vivências do educando, e nem por isso é considerada estimulante ou instigante por uma boa parte dos alunos. Com a interferência digital,
e a dinâmica dos acontecimentos, a leitura muitas vezes não acompanha todas novidades.
Especialmente no contexto educacional, observa-se que os currículos escolares necessitam urgentemente de reformulação para que se adequem aos interesses atuais.
Diante dessa realidade tecnológica, com pouco incentivo, familiar, tendo ainda a alegação da falta de tempo por tantos compromissos assumidos, despertar no aluno o prazer pela leitura e o hábito de ler títulos distintos realmente vem esgotando as possibilidades criativas de muitos docentes.
Algumas alternativas ficam a critério de uma boa escolha dos temas, considerando a faixa etária, o nível de maturidade, a afinidade dos discentes, observando suas preferências, suas crenças, seus valores, para assim conseguir traçar diagnósticos que resultariam numa abordagem mais eficaz no que tange o interesse pela leitura.
O professor, como mediador, precisa incentivar seus alunos a conduzirem suas leituras a partir de assuntos que intensifiquem seus interesses, seu conhecimento de mundo, suas opiniões, seu universo individual. Todos esses elementos, centrados no leitor, proporcionam uma familiaridade com diferentes tipos textuais que associados as suas vivências, resultarão mais significativamente na compreensão de tudo o que foi lido.
(...) A ativação do conhecimento prévio é, então, essencial à compreensão, pois é o conhecimento que o leitor tem sobre o assunto que lhe permite fazer inferências necessárias para relacionar diferentes partes discretas do texto num todo coerente.
Este tipo de inferência, que se dá como decorrência do conhecimento de mundo e que é motivado pelos itens lexicais no texto é um processo inconsciente do leitor proficiente. (KLEIMAN, 1997, p. 25).
A grande luta dos educadores é demonstrar que a leitura se apresenta de vários modos, desde desenhos, músicas ou mesmo pelas imagens visuais hoje veiculadas no cinema, vídeo e televisões. Acima de tudo, a leitura é importante em todos os contextos sociais e em todas as formas. É preciso ser capaz de não apenas decodificar sons e letras, mas entender os Transformar a aprendizagem numa experiência prazerosa, agregar símbolos a sua vivência, edificar críticas que o transponha dentro do contexto social é a sensibilidade imprescindível a todos os que se valem da leitura, tanto no enfoque educacional, social ou cultural.
A possibilidade de trabalhar com a leitura no espaço educacional é inesgotável. A busca por ideias criativas e inovadores precisa ser contínua. Abordar temas atuais, resgatar traços culturais, discutir assuntos polêmicos, dramáticos ou divertidos podem despertar o interesse dos alunos na leitura.
Outra possibilidade que se deve considerar é a utilização dos aparelhos eletrônicos, as redes sociais, o ambiente virtual e a tecnologia em favor da leitura. Entende-se que a multiplicidade textual disponibilizada na Internet e apreciada pela Tecnologia Digital coopera com o interesse público. Entretanto, filtrar os assuntos do universo virtual requer definir critérios de seleção, considerando a pertinência que cada título exerce na edificação do conhecimento.
Silva discorre sobre a relevância da tecnologia no contexto educacional: Se o espaço escolar deixa de incluir a internet na aprendizagem das novas gerações, ela está caminhando no sentido contrário à história, desatenta ao espírito do tempo e, negligentemente, causando a supressão social ou a exclusão da tecnológica.
(SILVA, 2005)
O aparecimento da internet e sua ampliação, de modo acelerado, causaram mudanças na história e no comportamento da sociedade. Transpondo barreiras geográficas e temporais, seu advento transformou a usualidade de diversos âmbitos sociais, coagindo-os a capacitarem- e para habituar-se dentro de uma cultura digital conduzida pelos aparelhos eletrônicos.
A era digital integrada à educação ocasiona debates a cerca da seriedade de adequação aos novos tempos. A Internet disputa, com relevância, com outros métodos de aprendizagem
clássica e estimula um empenho pela novidade. Assim, com tanta resistência por parte dos alunos em praticar a leitura, o profissional da educação precisa estar atento às possibilidades de agregarem valores didáticos e metodológicos às suas aulas.
2- A RELEVÂNCIA DA LEITURA NO DESENVOLVIMENTO INTELECTUAL E SOCIAL DO INDIVÍDUO
Fatos comprovam que por meio de registros escritos, a cultura, os costumes, os hábitos e as crenças da humanidade são preservados. A sociedade precisa desses documentos para que sua história seja imortalizada e seu povo tenha suas referências conservadas. A leitura ocupa uma posição de destaque dentro do contexto social e cultural. Diante dessa premissa, ler é uma oportunidade de criar subsídios para a formação de um cidadão crítico e ativo.
Para Paulo Freire o ato de ler vai além do domínio do código escrito, tendo um significado mais abrangente.
Possibilita uma leitura crítica da realidade, constitui-se como um importante instrumento de resgate da cidadania e reforça o engajamento do cidadão nos movimentos sociais que lutam pela melhoria da qualidade de vida e pela transformação social. (FREIRE, Educação na cidade, 1991, p. 68 Apud GADOTTI).
O autor defende que para o indivíduo não basta apenas ler mecanicamente, é necessário compreender o que esta leitura proporciona e o lugar que ocupa no universo do educando. A conquista do leitor deve ser mediada por hipóteses que revelam o constante processo de
reformulação das descobertas discentes.
A leitura é fonte de informação, de conhecimento e de prazer e torna-se muito importante para o aprendizado do ser humano. Ler desenvolve e estimula a capacidade de raciocínio, tendo em vista que a diversidade de textos abre um leque de conhecimentos no contexto em que se está inserido, ora sendo dinâmica, ora científica.
O ato de ler é a prática ancestral e eficaz, ainda atualmente, de constituir a aprendizagem. E é necessário desmitificar a concepção de que a leitura é um hábito enfadonho, monótono e cansativo. Ao antagônico do que certos indivíduos confiam a leitura de entretenimento, como sites, revistas, livros de romances, gibis podem ser tão relevantes quanto a leitura de um artigo, ou um texto técnico. O que diferencia é a intenção da leitura, todavia, um assunto técnico permite aprofunda-se mais num determinado contexto, enquanto que uma leitura sobre variedades é comum ter o raciocínio e vocabulário mais estimulados.
Desenvolver o hábito da leitura intensifica o conhecimento dos educandos, pois instiga o adequado funcionamento da memória, aperfeiçoa a aptidão interpretativa, pois sustenta o raciocínio sempre em ação, propondo ao leitor uma aprendizagem ampla e diversificada sobre diferentes tópicos. Quanto mais o sujeito aflora o gosto pela leitura, mais facilidade ele adquire para discorrer sobre diferentes abordagens de maneira coesa e concisa.
Para o ser humano aprender a se expressar, a divagar sobre suas ideias e concepções é essencial para sair da inercia do comodismo social e cultural transpondo sua condição de alienação assumindo um papel atuante dentro da sociedade.
Diferentemente dos animais, sujeitos aos mecanismos instintivos de adaptação, os seres humanos criam instrumentos e sistemas de signos cujo uso lhes permite transformar e conhecer o mundo, comunicar suas experiências e desenvolver novas funções psicológicas. (VYGOTSKY, 1987, 1988, p. 39)
O cenário político e econômico atual, as notáveis das mudanças nos valores da humanidade, a necessidade de se estabelecer padrões de ética e moral razoáveis, o aumento do nível de intolerância humana, são razões suficientes para que o indivíduo busque se posicionar dentro da sociedade. Entretanto, essa ascensão só será eficiente se este sujeito estiver resguardado de argumentos pertinentes e seu senso crítico pautado no entendimento da responsabilidade social que cada cidadão exerce, considerando sua habilidade de compreensão e julgamento em relação aos critérios adotados pela classe dominantes. Não aceitando as imposições
tradicionais, preconceituosas ou discriminatórias de qualquer natureza, sem que ajam questionamentos e justificativas.
CONCLUSÕES FINAIS
Essas considerações fazem da leitura uma arma contra o sistema opressor e corrupto que não prioriza a população e seu bem estar. Face ao exposto, a educação, mesmo que de maneira tolhida, não deve ceder às pressões governamentais e culturais e abandonar seus alunos a margem do conhecimento.
Deve-se intensificar a preocupação com a formação acadêmica e cultural de seus alunos de maneira a garantir-lhes o acesso ao mundo pensante, atuante e transformador. O ato de ler é assim incontestável para que se realize uma educação significativa, compartilhando ideias, formando opiniões e promovendo a democratização de obras literárias, valorizando os princípios intelectuais, artísticos e socioculturais.
Buscando de maneira justa e igualitária promover a desigualdade de informações que causam consequentemente a desigualdade social, pois o ser alienado não sabe lutar pelos seus direitos e nem busca a partir deles melhor sua condição de vida.
Assim, como educadores devemos acreditar na desalienação feita pela escola, e assumirmos de vez a responsabilidade neste papel tão importante para a manutenção da democracia e luta por uma vida justa em oportunidades e direitos.
REFERÊNCIAS BIBIOGRÁFICAS
CARLETI, Rosilene Callegari. A leitura: um desafio atual na busca de uma educação
globalizada. ES, 2007; Disponível em http://www.univen.edu.br/revista . Acesso em: 14 de
agosto de 2016.
FREIRE, P. A importância do ato de ler: em três artigos que se completam. 29. Ed. São Paulo:
Cortez, 1994.
KLEIMAN, Ângela B.; Moraes, Silvia E. Leitura e interdisciplinaridade. Tecendo redes nos
projetos da escola. Campinas, SP. Mercado das letras, 1997.
LAJOLO, Marisa (2008). Do mundo da leitura para a leitura do mundo. 6ª ed. 13ª impressão.
São Paulo: Editora Ática, 1991.
PCN - Parâmetros curriculares nacionais: Língua Portuguesa. Disponível em
<http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/livro02.pdf> Acesso em: 14 de agosto de 2016.
SILVA, Marco. Sala de aula interativa. 4ª ed. Rio de Janeiro: Quartet, 2006.
SOARES, Magda. Alfabetização e Letramento: Caminhos e descaminhos. Revista Pátio, n. 29,
fevereiro de 2004.
VIGOTSKII, L.S.; LURIA, A.R.; LEONTIEV, A.N. Linguagem, desenvolvimento e
aprendizagem. Trad. De Maria da Penha Villalobos. São Paulo: Ícone, 1987.
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