Notícias falsas não são novidade, mas se transformaram em um problema realmente grave. É cada vez mais fácil espalhar desinformação na rede
As fake news envolvem (e enganam) milhões de leitores diariamente em todo o mundo. Em muitos casos, esses leitores ignoram solenemente ou são incapazes de avaliar e reagir a duas importantes alavancas da proliferação das notícias falsas nas mídias sociais: as dimensões de facticidade e de intencionalidade dessas notícias. A primeira, se refere ao grau em que a notícia (falsa) se baseia em fatos; a segunda define a intenção imediata, o nível de desinformação e, potencialmente, de distorção que o burlador da notícia pretende produzir. O consumo de fake news leva a consequências concretas e não poucas vezes desastrosas. Mas elas são apenas parte de um problema muito maior.
Vivemos expostos a um enorme volume de dados e informações empacotados em diversos formatos, a todo minuto. Quanto mais diferenciadas se tornam a sociedade e a economia, mais informação deve fluir entre as pessoas e as instituições, à medida que o trabalho muscular diminui e mais máquinas inteligentes substituem trabalhadores não qualificados. Após a eleição americana de 2016, aumentou a preocupação com o as fake news.
Diferentes estudos mostraram que mais de 60% dos adultos americanos consomem notícias nas mídias sociais e que as fake news são mais compartilhadas do que notícias verdadeiras. Uma dessas pesquisas, desenvolvida por cientistas do MIT, observou que no Twitter as notícias falsas se espalham mais rápido, mais profundamente e mais amplamente do que as verdadeiras.
As fake news não são novidade, mas se transformaram em um problema realmente grave. É cada vez mais fácil espalhar desinformação na rede. Há poucos dias, o diretor, ator e comediante americano Jordan Peele, usando técnicas de IA, elevou o tom do debate: ao recriar em vídeo um simulacro de Barack Obama expressando opiniões (controversas) que ele jamais emitiu publicamente, ficou provado que a tecnologia já permite fazer qualquer um dizer qualquer coisa a qualquer momento. Em abril, em um evento do TED, Supasorn Suwajanakorn, da Universidade de Washington, pesquisador por trás da tecnologia do vídeo fake de Obama, reconheceu que há espaço para um potencial uso indevido dela, o que pode desencadear crises políticas.
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Devemos começar a combater as fake news na escola, defendendo a importância de uma boa alfabetização midiática e informacional. Existem outros modelos que podem ser usados, mas eu gosto de citar os “5 Cs do consumo crítico da mídia”:
1) Contexto: analise a conjuntura e o enquadramento do artigo. Quando foi escrito? De onde vem? Os eventos mudaram desde então?
2) Credibilidade: a fonte possui reputação de integridade jornalística? O autor cita fontes confiáveis? O objetivo é satírico? É um anúncio mascarado de notícia?
3) Construção: analise a estrutura do artigo. Qual é o seu viés? Existem palavras carregadas de emoção? Inclui técnicas de persuasão? Você consegue distinguir entre fatos e opiniões, ou tudo é pura especulação?
4) Corroboração: validar a informação com outras fontes de notícias confiáveis. Certifique-se de que não seja a única fonte que faz a reivindicação.
5) Confrontação: compare a notícia com outras fontes para obter perspectivas diferentes, dê uma chance ao contraditório.
A “regra de ouro” é procurar fontes confiáveis em diferentes áreas do espectro ideológico, político e cultural para perceber nuances e obter uma visão mais ampla do que realmente está acontecendo. Quem aprende a consumir informações criticamente aprende a pensar criticamente. O pensamento crítico é bom para a democracia, logo, é bom para todos.
Cláudio Soares é jornalista
Leia mais: https://oglobo.globo.com/opiniao/combate-as-fake-news-comeca-na-escola-22654719#ixzz5JMAZcaPx
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