A atual bandeira olímpica foi concebida em 1913 pelo Barão Pierre de Coubertin, criador dos modernos Jogos Olímpicos, para o Congresso Olímpico que seria realizado em 1914. Na época, ele explicou que seu esquema (cinco anéis nas cores azul, amarelo, negro, verde e vermelho) simbolizaria “as cinco partes do mundo”. E acrescentou que as cores de todas as nações do mundo estariam representadas por ao menos uma das seis cores da bandeira (contando o fundo branco).
A bandeira seria usada na Olimpíada de 1916, que acabou sendo cancelada devido à Primeira Guerra, e só flutuou nos Jogos de Antuérpia, em 1920. Em 1931, Coubertin reiterou que os anéis simbolizavam “os cinco continentes habitados” unidos pelo movimento olímpico. Contudo, ele nunca revelou os significados atribuídos a cada cor. Desde então, muito se discutiu sobre o tema.
É preciso lembrar que, em 1914, boa parte dos países da África e da Ásia ainda eram colônias de potências europeias e que as considerações “politicamente corretas” ainda não impregnavam as mentalidades dos dirigentes esportivos. Tendo isso em conta, as explicações do professor de história francês Michel Pastoreau, especialista em cores, parecem bem fundamentadas: “Três das cores parecem ter sido escolhidas em virtude de considerações étnicas (talvez devêssemos dizer ‘racistas’?): o preto para a África, o amarelo para a Ásia, o vermelho para a América”.
É fácil entender as razões: naquela época, expressões como “continente negro” e “continente amarelo” eram bastante comuns. No caso da América, a cor escolhida se referia aos “peles vermelhas” americanos. A Europa, por sua vez, era representada pelo azul porque esta cor se tornou o símbolo da cristandade para os muçulmanos desde o final da Idade Média e também para os povos do Extremo Oriente a partir do século XVI. Na Idade Moderna, o azul se tornou também a cor favorita dos europeus, como mostraram diversas pesquisas sobre os brasões familiares, escreve Pastoureau em Dicionário das Cores do Nosso Tempo.
Resta o problema do verde. “Que relação privilegiada se terá avançado para a escolha dessa cor para esse continente?”. Para o historiador, ela teria sido escolhida por exclusão, pois era a última cor fundamental que não constava do esquema: “Sendo a cor que restava, o verde foi atribuído ao quinto e último continente”, uma vez que “a Oceania foi o último continente ‘descoberto’ por eles”.
Essa interpretação não é consensual. Segundo um relatório de 1948 do Comitê Olímpico dos Estados Unidos, não havia nenhuma dúvida de que o azul representava a Europa, o amarelo, o continente asiático e o negro correspondia à África, mas o verde representava o continente americano, e o vermelho, a Austrália. Assim como Pastoureau correlacionava os “peles vermelhas” à América, os norte-americanos preferiam atribuir essa cor aos indígenas australianos, e reservavam o verde para a América, pelas imensas florestas da América da Sul e do Norte. Recorde-se que, quando os vikings chegaram à Groenlândia, denominaram a região de Terra Verde. Mas, como Coubertin não deixou nenhuma indicação sobre as cores, esse debate não terá fim.
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