No cenário atual, nenhuma interrogação deve ser descartada
Há uns 20 anos a expressão “a pergunta que não quer calar” ganhou popularidade (e não perdeu mais) quando Artur Xexéo passou a usá-la em suas crônicas depois de tê-la ouvido da saudosa Scarlet Moon de Chevalier — que, por sua vez, teria se inspirado no subtítulo em português do filme “JFK” (1991). Não tive tempo de checar se já existia antes dessa simpática historiografia bairrista. Seja como for, é uma expressão saborosa que transforma a interrogação em sujeito e até em personagem: ansiosa por se libertar, a pergunta ganha vida e luta contra a opressão, independentemente da vontade do perguntador. Quanto mais perguntas que não querem calar, mais liberdade. Porém, há também as perguntas que querem calar. Oprimidas por forças ocultas, elas se multiplicam, ameaçando o debate. Eis algumas.
1. O que significa, ou o que oculta, a frase “Eu contribuí para o Temer”, proferida pelo ventilador de Sérgio Machado na sua incursão ao oráculo de José Sarney?
2. Afinal de contas, Dilma mente descaradamente?
3. Quem são os integrantes do governo Fernando Henrique Cardoso beneficiados com US$ 100 milhões em petropropinas?
4. Mesmo preso, Eduardo Cunha deixará de ser o primeiro-ministro do governo Temer ou continuará a mandar na jagunçada direto de seu gabinete prisional, como acontece com muitos mafiosos encarcerados?
5. Lula desta vez jogou mesmo a toalha ou está só pagando para ver?
6. Michel Temer e Marina Silva lamentaram a morte do imoral Jarbas Passarinho e ignoraram solenemente a morte do artista Tunga. Temer e Marina sabem quem foi Tunga?
7. Quando a faxina da Lava-Jato acabar — se um dia isso vier a ocorrer — haverá quórum para o que quer que seja?
8. Quem vai sobrar para exercer as funções executivas e legislativas?
9. Independentemente de uma reforma política, que geração sucederá à geração perdida num panorama de limpeza ética? Os filhos?
10. Concluída a missão da Operação Lava-Jato (a nossa Operação Mãos Limpas!) teremos, também, direito a um Berlusconi?
11. Quantos caciques e coronéis do PMDB presos valem um Lula preso?
12. Quantos Lulas presos valem um grande cacique histórico do PSDB preso?
13. Quanto vale o voto de Tia Eron?
14. Quantos litros de sangue Michel Temer deve a Eduardo Cunha?
15. Que interesses o ministro-fanfarrão Gilmar Mendes (o coronel do STF) defende, de fato, do alto de sua tribuna giratória?
16. O ilibado PSDB é o limite, a fronteira final, do espaço da Lava-Jato?
17. Exercício de ficção: se a Lava-Jato desse um pulo no STF e achasse algo, quem iria tutelar o tutor do Brasil? Nessa longínqua hipótese, O STF seria capaz de tutelar o STF?
18. O presidente interino Michel Temer comparou-se a JK por ter voltado atrás e admitido o erro no patético caso do fim do MinC. Depois, fez do erro seu padrão de conduta e não admitiu mais coisa alguma. JK não merece um desagravo?
19. Existe alguma chance de o TSE, sob o comando do imparcialíssimo Gilmar Mendes, cassar a chapa Dilma-Temer? E se Dilma voltar? Aí passa?
20. A segurança e a escolta de Rodrigo Janot estão em dia com as mais novas tecnologias de blindagem total?
21. O povo assalariado vai dar sua cota de sacrifícios na educação, na saúde, nos programas sociais e na aposentadoria; pergunta que quer calar: qual será a cota dos três poderes, dos bancos e das grandes fortunas?
22. Foi golpe? (A esta altura, a pergunta é só para desopilar o fígado.)
23. Por que tanta gente que via os editoriais do “NYT’’ como um tipo de arca sagrada da opinião de repente diz que são textos vagabundos de gente desinformada?
24. Ao recusar uma chapa única e pulverizar votos, os liberais (no sentido clássico) Freixo, Molon e Jandira têm como objetivo eleger Crivella, Pedro Paulo, Flavio Bolsonaro ou Romário?
25. Por que todas as obras viárias do futuro “legado olímpico” carioca têm que ter, necessariamente, materiais, fiscalização e acabamento de quinta categoria?
Leia mais sobre esse assunto em http://oglobo.globo.com/cultura/perguntas-que-querem-calar-19482181#ixzz4BPaO7p4l
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