24/05/2016
Primeiros dias do novo governo transformaram-se numa imperdoável sequência de tropeços
O DIA
Rio - Não bastasse a truculência de um controverso processo de impeachment, os primeiros dias do novo governo transformaram-se numa imperdoável sequência de tropeços. Ministros desautorizados, divergências públicas na equipe e propostas estapafúrdias marcaram os atos iniciais, numa demonstração de improviso que rouba confiança num momento decisivo para afirmação de princípios. Há ainda as deformações de gênese: a ausência de mulheres e minorias no ministério e a supressão de pastas extremamente sensíveis aos formadores de opinião como o Ministério da Cultura — recriado diante da grita de artistas.
Soma-se a este conjunto de dificuldades uma exagerada dose de pretensão: o presidente em exercício Michel Temer deseja fazer a propalada Reforma da Previdência, tema explosivo por natureza. A pauta inclui a flexibilização das leis trabalhistas, outro vespeiro. Há questões, por complexas e delicadas, que somente governantes recém-eleitos conseguem trata-las com relativa tolerância da sociedade. Ainda assim, no momento imediato à posse, após a mágica unção das urnas. E este não parece ser o caso de Temer.
Objeto de contestações dentro e fora do país, o governo atual não dispõe de capital político para a façanha. Falta-lhe o beneplácito do voto. A consequência mais imediata deste somatório, de escorregões com elevada ousadia nas iniciativas, foi juntar os setores à esquerda num coeso bloco de combate às propostas. Os protestos, que partiam majoritariamente do PT e eram motivados exclusivamente pelo impeachment, ganharam substância em temas concretos de interesse do cidadão.
O governo sofre também acelerado processo de erosão de confiança dada a proximidade com Eduardo Cunha. O novo líder, deputado André Moura, é expoente da tropa de choque do presidente afastado da Casa. As dificuldades aumentam com o flagrante de conversa do ex-ministro Romero Jucá, em que confidencia a pretensão de firmar um pacto para obstruir a Lava Jato. Ainda que não correspondesse aos fatos, a revelação vem corroborar suspeições.
São erros em demasia para um governo de 15 dias. E os principais tropeços se dão exatamente no campo político, onde supostamente o presidente teria desembaraço e traquejo reconhecidos.
Ricardo Bruno é jornalista
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