O golpe que pretendem é contra a democracia e contra toda a liberdade e igualdade que ela pode proporcionar
Rio - O 21 de março é o Dia Internacional para Eliminação da Discriminação Racial. A data foi escolhida para que a humanidade não esqueça o massacre dos jovens negros, na década de 1960, na África do Sul. As jornadas de lutas contra o racismo e pela igualdade de oportunidades, contudo, ainda não colocaram fim às ofensas que teimam bater à nossa porta. Semana passada, em espetáculo teatral sobre a obra de Chico Buarque, em Belo Horizonte, um ator fez proselitismo político em defesa do golpe que está sendo articulado contra a presidente Dilma, mas foi rechaçado. Daí, ele não hesitou em dizer que não seria interrompido por nenhum negro.
Ora, qual a razão de tanto ódio contra Dilma e contra os negros? A resposta exige que se percorra breve caminho histórico. Por 388 anos, o Brasil teve como regime de trabalho a escravidão de africanos e de seus descendentes. Após muitas lutas, o movimento abolicionista cresceu e ganhou representantes no Parlamento. Em maio de 1888, conseguiu-se lei de apenas um artigo: “Está abolida a escravidão.”
Somente no século 21 foi aprovada legislação estabelecendo que o Estado deva reconhecer as desigualdades — o Estatuto da Igualdade Racial. Sancionado pelo presidente Lula, introduziu as ações afirmativas, para tratar os desiguais desigualmente e, assim, alcançar a igualdade.
Ocorre que, agora, o Brasil experimenta grave crise política, produzida por vestais de pés de barro e que são, sobretudo, antiabolicionistas. São contra as cotas, contra o Bolsa Família, contra os direitos trabalhistas aos domésticos, contra o Prouni, contra negros em aeroportos — salvo como empregados — e contra o direito de um negro levantar-se em oposição a ofensa proferida num teatro. Batem no peito para dizer que têm amigo negro, mas que não admitem nossa presença em igualdade de oportunidades.
Esses antiabolicionistas do século 21 querem, agora, dar um golpe para restringir as ações afirmativas e preservar suas senzalas. O golpe que pretendem é contra a democracia e contra toda a liberdade e igualdade que ela pode proporcionar. Vamos resistir ao golpismo que tenta avançar sobre as conquistas da comunidade negra brasileira. Desesperem-se, antiabolicionistas, pois não vai ter golpe.
Eloi Ferreira de Araujo é ex-ministro da Igualdade Racial
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