Rio - O Brasil vive momento de profunda e perigosa divisão política que faz lembrar o mesmo mês de março de 52 anos atrás. Estou em suspenso, como toda a nação, na expectativa do que pode acontecer de grave em confrontos de rua hoje.
Claro que há muitos fatores e razões na causação deste confronto tão profundo e oneroso. Acho mesmo que há fatores externos, interessados no desmoronamento de um projeto brasileiro deflagrado em 2003, como tenho dito repetidamente.
Mas há, obviamente, também fatores internos: a mesma mídia de 64 e de 54, o mesmo grupo político que se opõe a todas as tentativas de implantação de um modelo de desenvolvimento que priorize a justiça social e a autonomia nacional, tentando desqualificá-lo com o adjetivo de populista; o mesmo grupo que levanta sempre a bandeira do combate à corrupção.
O processo de confronto é, evidentemente, político na sua essência, e sua liderança deve ser assumida por figuras políticas, declaradamente políticas, limpidamente políticas, como foi Carlos Lacerda naqueles tempos.
Desta feita, entretanto, o líder político se esconde sob a toga de um juiz. Aparece com a face de um magistrado austero e rigoroso, mas age sob sua outra face, oculta, a de um político matreiro, que faz jogadas espetaculares, estrategicamente combinadas com a mídia, vazamentos selecionados, tudo com o propósito de desmoralizar perante a opinião pública um partido, o PT, e derrubar o seu governo conquistado legitimamente pelo voto. Quer imitar a justiça italiana no combate à máfia, como se o PT fosse comparável, no seu pré-julgamento, à camorra assassina.
O juiz Moro é um radical, desprovido desta qualidade essencial da autoridade que é o bom-senso; o juiz Moro tem duas faces, e isto é muito desonesto. Esta é a minha opinião; esta é a minha grande preocupação. A minha esperança está no bom-senso do povo brasileiro, nisto que falta ao juiz; no bom senso de deixar passar este dia 13 sem confrontos nem radicalismos, na convicção de que o Brasil sairá de mais esta crise, sem traumas nas suas instituições democráticas, e retomará seu desenvolvimento. E punirá de forma exemplar, pelo julgamento adequado e sereno dos seus tribunais, os corruptos com dinheiro do povo.
Saturnino Braga é ex-prefeito e ex-senador
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