A corrupção não tem ideologia. Ela se imiscui na direita e na esquerda
O DIA
Rio - Cuba vive momento histórico de grandes transformações. Sua lógica revolucionária de desenvolvimento, centrada nas necessidades e nos direitos da maioria da população, deixa de ser estatizante e se abre às parcerias público-privadas. A construção do Porto de Mariel, o mais importante do Caribe, descortina novas possibilidades ao desenvolvimento cubano.
O setor de turismo, incrementado pela excelência dos serviços — como na área médica, e o alto nível educacional da mão de obra e a proteção ambiental —, se amplia como promissora estratégia de captação de divisas.
O que há de original na lógica de desenvolvimento de Cuba é justamente seu capital simbólico fundado em valores espirituais, como o senso de liberdade e independência, de cooperação e solidariedade, que marca a história da ilha, da luta dos escravos à implantação do socialismo. Muitos, no exterior, ignoram o quanto essa ética revolucionária é arraigada no povo cubano e apostam que, em breve, Cuba será uma mini-China, politicamente socialista e economicamente capitalista.
Ora, esse risco existiria se Cuba abandonasse o que possui de mais precioso: seu capital simbólico. O país não possui muitos bens materiais, e o pouco que possui tem sido repartido para assegurar a cada habitante seu direito à dignidade como ser humano.
Porém, raras nações do mundo são ricas, como Cuba, em capital simbólico, encarnado em figuras como Felix Varela, José Martí, Ernesto Che Guevara, Raúl e Fidel Castro. Esse capital simbólico não resulta apenas da Revolução vitoriosa em 1959. A Revolução o potencializou. É consequência de séculos de resistência do povo cubano aos dominadores espanhóis e estadunidenses. Resulta desse profundo senso de independência e soberania que caracteriza a cubaneidade, e marca a gloriosa história da ilha caribenha.
Porém, não sejamos ingênuos. A corrupção não tem ideologia. Ela se imiscui na direita e na esquerda. É um vírus que penetra quando o revolucionário perde a sua imunidade ideológica. E isso ocorre quando ele se despersonaliza encantado pelas funções que ocupa na estrutura de poder. A função o torna mais importante que a pessoa, e esta tudo faz para não perdê-la, como um náufrago que se agarra ao tronco em meio à borrasca marítima.
A vida de cada ser humano se define pelo sentido que imprime a ela. E este sentido só se transforma em capital simbólico quando está enraizado na ética. Esse capital simbólico não resulta apenas da Revolução em 1959. A Revolução o potencializou
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